quarta-feira, julho 26, 2006

Hoje o dia amanheceu bonito que só.
Um passarinho entrou pela minha janela e ficou olhando pro lado de fora.
Talvez tenha achado um ninho ali, no meu quarto.
Piou. Piou. Virou pra mim e olhou pra fora. Me senti convidada.
Levantei. Fui ver o que tinha naquela janela.
Nada de mais. Só um belo dia amanhecido.

Segundos depois ele voou.

terça-feira, julho 25, 2006

Apêndice:

Olho é coisa que participa o silêncio dos outros.
Coisa é pessoa que termina como sílaba.
O chão é ensino.

(texto do de Barros, grifos meus).

domingo, julho 23, 2006

dei-me conta que todos foram embora. que me perdi numa teia emaranhada. que meus pés estão mais rosados mas precisam de cuidados, continuamente, para que possa mantê-los assim. percebo alguns livros que nunca li, os que nem ao menos vi, os que jamais conhecerei. e penso nos buracos negros puxando as galáxias e toda dor que há nestas esferas perdidas no espaço. sempre penso no espaço. é porque gosto da imensidão. de pensar em algo que não cabe no pensamento, que não tem um número final, que não tenha medida. gosto de um ser assim independente de cercamentos e todo-poderoso. mas onde estava mesmo? no embora. é, estão todos indo, mesmo que nem tenham a ida nos sonhos. até mesmo estes se vão. eu não, eu me perdi com pés e livros na teia emaranhada. e talvez o universo não seja tão grande assim, já que consigo formar uma idéia de infinito. ou então o pensamento engana.

quinta-feira, julho 20, 2006

Paisagem

Deus fez cada coisinha no mundo bem bonitinha. A borboleta, a flor, a montanha, o desfiladeiro, os passarinhos, a imensidão do céu azul, um mar lindo de perder de vista, fez gente, fez movimento, fez e fez tudo tudinho. E é só isso que reservo aos meus olhos todos os dias, o dia quase inteiro: uma quina. Algum pós-moderno aí falou de profusão de imagens?

terça-feira, julho 18, 2006

rapidinhas

o almoço com ele sempre me rende algumas risadas e a revitalização dos meus sonhos. mesmo quando vem expresso amargo em vez de capuccino.

há muito tempo gato de Cheshire me avisou:
"O senhor poderia me dizer, por favor, qual o caminho que devo tomar para sair daqui?"
"Isso depende muito de para onde você quer ir", respondeu o Gato.
"Não me importo muito para onde...", retrucou Mirella.
"Então não importa o caminho que você escolha", disse o Gato.
"... contanto que dê em algum lugar", Mirella completou.
"Oh, você pode ter certeza que vai chegar", disse o Gato, "se você caminhar bastante."
porque será que eu nunca decido?

próximas prioridades: pôr meus documentos em dia.

segunda-feira, julho 17, 2006

sempre me vem, ao comer um creme de galinha servido com milhos verdes, o questionamento de como é cruel o ser humano, capaz de comer o animal e ainda por cima a comida da qual, caso vivo, ele se alimentaria.

domingo, julho 16, 2006

eu tenho um canto. moro dentro da imaginação.

sexta-feira, julho 14, 2006

O amor é uma pequena guerra que você trava consigo, com o outro e com os outros. Viver é violento.

Estou me tornando uma velhinha ranzinza e radical. Conviver com a hilda tem me feito assim.

de tanto andar em alguns lugares tenho conhecido e abusado certas posturas. e feito estranhas relações. prestando atenção falcão disserta sobre elas: "Fica díficil um estudo, uma tese, uma analise à luz da ciência: O homem inteligente dá ou dá por que é inteligente?"

quinta-feira, julho 13, 2006

Pus um cravo na lapela. Sou escravo, eu sou, dos olhos dela. Pena verde no chapéu me deu sorte: ela caiu do céu. Tenho agora quem me quer, dou meu cravo pra quem quiser, mas pena verde não abro mão, pois desconfio do seu coração. Não adianta fugir do feitiço, no fundo você é toda sorriso. Agora sim não há mais problema, tenho você e sei que vale a pena.

quarta-feira, julho 12, 2006

quando os tempos são tão ásperos, duros, tesos, quando a vida chama pra parede, pro dó de si, pro e aí cabôca?, pro devoramento, quando a gente pára no meio do cruzamento de cem ruas, eu sempre penso no tapete do Aladdin.

quando o mundo tange, quando a hora range, quando os dias rosnam e mostram os dentes, quando os jardins despencam e as flores todas despetalam, quando caio sem querer na areia movediça sem direito a Münchausen, eu sempre penso no barco de Simbad.

E quando penso em todas as fadas desaladas, príncipes desencantados, nos sapos mal intencionados, nos nomes que arrepiam e ferem, nos reis e rainhas destronados e nas deusas desempedestadas, eu sonho cruzar as osferas.

Ou Greenwich.

segunda-feira, julho 10, 2006

feliz.

(pena que em pobre sempre dure pouco.)

terça-feira, julho 04, 2006

é porque a vida é só assim mesmo. essa bobagenzinha, sem grua nem BG. e é você e os monstros, o leão do num sei quê, a zebra não sei de onde, um coelho esbaforido te lembrando sempre do atraso, um revólver que você nem conhece e que pode a qualquer hora te aniquilar. e tudo o que é mais ou menos bonito e leve é ilusório, porque você está só. ninguém quer te ajudar a fazer as coisas assim. e você topa em qualquer degrau de escada e cai de cara. sempre cai de cara, sei porquê não. penso isso enquanto almoço no refeitório. se você já comeu em refeitório de empresa sabe o que estou dizendo. todo mundo agindo feito uma massa de bolo solado. contido, oprimido, conduzido, como se fosse consequência de um fracasso que a gente não sabe bem que horas nem como aconteceu. e eu cheia de vontade, de peito pulsante, de imaginação querendo irromper pela mesa abrir a porta de vidro e sair passaré afora, praquela verdania imensa, o oásis na cidade, mas não, comi a beterraba insosa caladinha. cabeça latejando, desfilo entre as mesas até o caixa, porque restaurante pra batalhão é assim, você que vá andando pagar a sua conta. e eu pensava: eu tenho uma proposta, eu tenho uma proposta. saí da aula pensando que eu tinha a tal proposta que o nosso tempo recusa assumir. eu não tenho muito o que perder, eu posso propor. pois como aquelas pessoas não desconfiavam que aquela menina sem graça que se arrastava entre as mesas cheias de bandeijões tinha uma proposta? ri com essa idéia porque no máximo o que elas podiam ver em mim era uma nostalgia portuguesa do que não senti, que já passou e provavelmente nunca existiu. uma baixinha concentrada com cara de desgosto que não entende porque um ser humano se submete a comer em bandeijas.

segunda-feira, julho 03, 2006

Quando o estudo ameaça a plenitude.

O Pós-modernismo se distingue disso, não em suas contradições humanistas mas no caráter provisório de sua reação a elas: ele se recusa a propor qualquer estrutura, qualquer narrativa-mestra - tal como a arte ou o mito. Ele se caracteriza exatamente por uma incredulidade em relação a essas narrativas: aqueles que se queixam da "perda do sentido" no mundo ou na arte estão realmente lamentando o fato de que o conhecimento já não é esse tipo de conhecimento basicamente narrativo. Isso não quer dizer que, de alguma forma, o conhecimento desaparece.

Ou seja, não é simples.