Como ficou o seu curso para a entrada no banco?
- Não passei.
- Poxa. Mas não está a trabalhar agora?
- Estou a ver umas aulas, mas ainda não saíram. Talvez só para o semestre que vem, que começa em fevereiro.
- Poxa... deve estar a ser difícil para ti. Mas fevereiro deve estar aí á porta.
- Está e não está. Necessidade não passo, mas é ruim a sensação de não está produzindo como gostaria.
- É... dificil entrar no mundo adulto. Mas vais ver que tudo se resolve.
- Você já me disse isso um montão de vezes. Eu concordo. Verei sim. Hei de ver. E você? Como vão os existencialismos?
- Eu?
- Uhum!
- Nem sei. Porcaria de sensação de vazio. De falta de interesse.
- Eu me preocupo com você, sabia. A gente não se conhece como se deveria conhecer alguém, não convive como deveriam ser as convivências, mas eu me importo com você e me entristeço quando você fala assim porque eu me sinto completamente impotente em poder te ajudar.
- Sempre senti que tu és um coraçãozinho de ouro, mais do que ninguém. Tu sempre és um tronco onde me seguro e encosto minha cabeça.
- Mesmo daqui?
- Sim. Sempre te senti a meu lado. Aliás... deves ser a única pessoa deste mundo a quem eu mais me exponho. És a minha amiguinha especial.
- As pessoas têm medo de se expor. Incrível. Não sei pra onde levarão tanta necessidade de invulnerabilidade.
- Para a necessidade de suportar uma personalidade
- Mas sabe, a gente só pode se gastar enquanto vive. Não tem que ter medo disso. É um pensamento adolescente que a gente deveria levar por toda a vida.
- Pois... e onde se encontra o pária para a exposição? Em alguém conhecido? Não acredito.
- E seria a quem? Porque não a um conhecido? Eu acho que as pessoas andam cheias de armaduras. E aí mais que aqui.
- É uma tendência mundial.
- Imbecilidade. Quem faz a tendência somos nós. Não existe isso. O mundo só tende a rotação e translação. As pessoas é que escolhem andar com cofres no meio dos peitos...
- ... com medo de não serem abusadas ao expor as emoções. Pois.. Mas e quem espalha a mensagem, os dogmas? Os credos ou os mídea?
- Não sei. Mas sei que nós podemos não nos ater a esses dogmas, mesmo não sabendo de onde eles vêm. Todos querem a mesma coisa. Todo mundo sente a mesma necessidade de alguém. Ou de todos. Alguém tem que começar com isso. Eu acho muito estranho o mundo sair se fechando porque o mundo é fechado. Mas enfim... falemos de levezas, que, pelo visto, eu sou uma criança que ainda não entendeu o funcionamento dessa máquina.
- É... e como achar a chave destes peitos? E como levantar os véus dos cérebros?
- Isso é um segredo que eu te digo: eles não têm chave, só que ninguém sabe disso.
- É?
- É. Porque ninguém nunca tentou abrir por achar que está trancado e não se tem a chave exata. Mas pfff.. tá abertinho! A portinhola tá só encostada.
- É necessário mais um Adnam Kadnom e uma Eva Anasthasia
- Quem são?
- Novo Adão e Eva que portam um facho, que em lugar de dar luz, recebe emoções e concentram todos no peito.
- Não sei do que você está falando mesmo... Isso existe, é uma metáfora, ou uma idéia sua?
- É do imaginário templário de origem escocesa.
- Hum.. Conheço não.. mas pelo que vejo, qualquer um de nós pode ser um desses dois. É só querer e não ter medo.
- É. Falta a minha Eva.
- Seja o Adão. Em o ser, a Eva aparecerá. Creia. As pessoas se juntam por afinidades. Quanto melhor você for, melhores pessoas chegarão a você.
- Não há nem embrião desta bonita flor. Por muito que se tente plantar.
- Como assim? Claro que tem. O que é isso? Que indisposição é essa?
- Já reparou? Talvez tu sejas a melhor amiga que tenho.
- Eu não sei. Não sei como são as suas amigas. Talvez seja apenas a mais teimosa. Mas é isso que eu digo. Não se feche. Comece com as pequenas coisas. Seja sincero com as pessoas, mesmo que doa um pouco. Exija isso de volta. E arque com as conseqüências disso. O mundo fica muito mais bonito e leve.
- Adoro-te.
- Eu também te adoro.
E a conversa desses dois (des)conhecidos da internet poderia ter esbarrado nas amenidades do dia-a-dia, do vento, do verão, do que foi feito no fim de semana. Mas não ficou porque alguém ainda acredita em alguma coisa e tem alguém disposto a passar a acreditar. Sem medo de parecer ridículo, piegas ou auto-ajuda demais, esta pessoa tenta dizer ao outro que ainda existe possibilidade para o mundo, nem que seja para o mundo que nos cerca - sim, o mundo grande é mesmo feito de pequenos mundos, mudar esse pequeno mundo já é uma revolução. E ainda que não se consiga todas as vezes, ainda que precise que alguém acredite por si em algum momento, essa pessoa continuará tentando, porque só sabe se for assim. Não é fardo, não é status de cânone, não é nada. É apenas vontade de se saber aliviar um coração e receber em resposta um eu te adoro. E não tem mesmo - para os que buscam ardentemente - qualquer outro sentido essa nossa existência vã.
sábado, novembro 27, 2004
quinta-feira, novembro 25, 2004
Não é mentira, não é falsa modéstia, não é marmota, não é frescura. Eu tenho mesmo vergonha de receber elogio. Quase involuntário, até, este comportamente infantil.
Algumas coisas começam a dar certo. Só preciso saber como conduzi-las, agora.
E às vezes fico pensando: é bom porque eu quero ou eu quero porque é bom?
(Dane-se. É bom.)
Algumas coisas começam a dar certo. Só preciso saber como conduzi-las, agora.
E às vezes fico pensando: é bom porque eu quero ou eu quero porque é bom?
(Dane-se. É bom.)
sábado, novembro 20, 2004
Somente teu nome é meu inimigo. Tu és tu mesmo, sejas ou não um Montecchio. Que é um Montecchio? Não é nem mão, nem pé, nem braço, nem rosto, nem parte alguma pertencente a um homem. Oh! sê outro nome! Que há em um nome? O que chamamos de rosa, com outro nome, exalaria o mesmo perfume tão agradável; e assim, Romeu, se não se chamasse Romeu, conservaria essa cara perfeição que possui sem o título. Romeu, despoja-te de teu nome e, em troca de teu nome, que não faz parte de ti, toma-me por inteira.
Eu gosto desta intensidade. Porque toda - e tudo o que é - vida tem um prenúncio de morte. O que teria acontecido se Julieta não faz essas reflexões tão livres? O que acontece com o movimento que não foi feito? O que esperamos quando esperamos o óbvio, o cômodo, o fácil? É um tempo, um lapso, um instante, e que só faz sentido enquanto vivos e conscientes das memórias e dos sonhos. Isso que a gente nomeou de viver não é uma espera latente do envelhecimento do organismo. É um coisa grande, e só porque a gente quer, por mais nada, mas tem que ser, grande. E ela não tem tempo para o não saber.
Chama-me somente "amor" e serei de novo batizado. Daqui para diante, jamais serei Romeu.
Eu gosto desta intensidade. Porque toda - e tudo o que é - vida tem um prenúncio de morte. O que teria acontecido se Julieta não faz essas reflexões tão livres? O que acontece com o movimento que não foi feito? O que esperamos quando esperamos o óbvio, o cômodo, o fácil? É um tempo, um lapso, um instante, e que só faz sentido enquanto vivos e conscientes das memórias e dos sonhos. Isso que a gente nomeou de viver não é uma espera latente do envelhecimento do organismo. É um coisa grande, e só porque a gente quer, por mais nada, mas tem que ser, grande. E ela não tem tempo para o não saber.
Chama-me somente "amor" e serei de novo batizado. Daqui para diante, jamais serei Romeu.
sexta-feira, novembro 19, 2004
quinta-feira, novembro 18, 2004
Fazer vestibular de novo tem me lembrado de como eu gostava de biologia. Zoologia, mais precisamente. Animais invertebrados: Filos Porífera, Coelenterata, Platyhelmintos, Aschelmintos, Annelida, Arthropoda, Mollusca, Echinodermata. Os cordados: peixes e tetrápodas. Que eu tinha pensado seriamente em fazer Ciências Biológicas até descobrir que era mais química que a vida e mais laboratório que mundo. E agora, olhando para isso tudo novamente, percebo, com um certo alívio, que o que eu gosto mesmo é dos nomes dessas coisinhas e do mistério que elas me representam.
segunda-feira, novembro 15, 2004
quinta-feira, novembro 11, 2004
quarta-feira, novembro 03, 2004
Ia falar sobre heróis. Príncipes encantados. Sobre os salvamentos que desencadeiam os romances - imaginários - da infância, ou pré-adolescência, que seja. Daqueles que a gente encontra na história da Bela Adormecida, da Branca de Neve, da Rapunzel. Ia falar sobre um filme brega de ação em que o cara perfeito aparece no momento certo em que a mocinha é baleada. E que é lindo, forte, charmoso, seguro, e sabe de tudo, medicina, mecânica, arte investigativa, marcial - porém não diz mistérios, marxismos, rímel, gás. E que ele age exatamente no justo tempo exigido pelo socorro, irrompe os portões da emergência com ela nos braços, já previamente imobilizada, e que tem a delicadeza de que, quando ela acordar, já lhe tenham sido enviado rosas e desejos de melhora, antes da visita, em que ela agradecerá, emocionada, o seu salvador. Ia falar de situações absurdas assim, que os americanos nos impuseram nos sonhos e nos medos. Mas não vou mais não. Os melhores filmes trazem os densos diálogos pausados dos franceses. E também porque um dia a mocinha do sonho americano acorda com a solidão, com a tristeza, com o desabamento deste seu mundo inventado - como se entrasse em órbita novamente. E porque sonhos como estes só se sustentam durante as duas horas da sessão de cinema.
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