quinta-feira, dezembro 30, 2004

Listinha de afazeres para 2005. Dessa vez mais real e com os devidos cortes.

- Ler o Rosa que birra tem limites.
- Fazer ouvido de mercador quando alguém disser: nunca mude.

quarta-feira, dezembro 29, 2004

Queria eu ter uma coisa para dizer que sou.
Às vezes, quando estou só, ouço passos fantasmas pela casa. E, para mim mesma, digo: ande.
Esse negócio de ter só uma, e curta, vida tem me justificado demais ultimamente.

terça-feira, dezembro 28, 2004

Abelha, Carneirinho
Acabou chorare
No meio do mundo
respirei eu fundo
foi-se tudo pra escanteio

Fiz zum-zum e pronto
Fez zum-zum e pronto.
Tô aqui hipnotizada com o bíceps do Jesus da estatuinha daqui de casa. Depois eu fiquei pensando que não era nem um pouco cristão. Mas que culpa tenho eu se eles fizeram um Jesus todo sarado?
O meu nome tem torres gêmeas.

domingo, dezembro 26, 2004

Mas aí, como eu não celebro mesmo a solidão, subi no andar de cima, pedi emprestado o multiprocessador à minha tia querida para que eu pudesse começar a fazer a ceia de natal. Então ela veio e tudo passou.
25.12.2004

Se não era solidão o que eu senti hoje, foi muito próximo. Eu vivo dizendo que não sei o que é solidão, que o meu problema é o excesso de presença, coisas assim. Mas hoje acordei que não tinha lugar nenhum onde eu sentisse alguma firmeza ou alguma tranquilidade em estar só. Como se eu já não fosse mais capaz de me fazer companhia.

quinta-feira, dezembro 23, 2004

Sim, só acontece comigo.

Delegacia, 00:30, de camiseta aparecendo a alça do sutiã preto, bermuda, toda descabelada, chinela de praia enfeitada com conchas e morrendo de fome. Entro na sala para fazer o B.O. do som do meu carro que acabara de ser roubado (ou outra suas demais vertentes que eu nunca sei a hora de empregar: furtado, assaltado, etc.), depois de ter recebido parabéns (sim, é o meu aniversário) de todos os assaltados presentes na delegacia, quando o escrivão (?) olha pra mim e pára o olhar por uns dois minutos, analisando. Quem me conhece deve até saber a minha reação. Pensei logo que ele ia fazer alguma piada, cerrei o punho, fiz cara feira, levantei o rosto, olhei o cara por cima:

- Gostaria de fazer um B. O.
- Você não já esteve aqui antes?
- Sim, já, fazendo o B. O. do meu celular que foi rubado há uns três meses.
- E o que foi agora?
- O som do meu carro. Um pioneer, mas...
- Quebraram o vidro?
- Não, arrombaram a fechadura. Acho que com chave de lixa, alguma coisa assim porque...
- Que horas foi que aconteceu?
- Por volta de dez e meia.
- Onde foi o local do furto? (oh, é furto!)
- Ildefonso Albano com Pinto Madeira, estacionamento do Hiper Mercantil.
- Tá explicado...
- Perigoso ali, né?
- É sim. Taqui seu B. O. Até a próxima!

Até a próxima? Que espécie de agouro é esse? Olhe 2004, se aguenta aí meu velho, só falta uma semana, não me apronta mais, faz favor.

quarta-feira, dezembro 22, 2004

O tempo é implacável. Ele não faz cerimônia em passar. E passa atropelando tudo, não pede nem licença. Eu nunca sei que imagem dar à  contagem do meu tempo, se a de um copo enchendo ou a de uma lista com ítens sendo descartados. E não depende do meu estado de espírito. É sempre absurda uma coisa ou outra.

terça-feira, dezembro 21, 2004

Sentei em frente ao computador achando que escreveria um livro de tanta coisa que gostaria de estar dizendo agora. Mas as palavras sempre esbarram em alguma coisa.

segunda-feira, dezembro 20, 2004

E eu que achei que não ia deixar amargar o peito.

domingo, dezembro 19, 2004

Adriano, uma lésbica presa no corpo de um homem diz:
queria ter uma fórmula para te oferecer agora
agora sim. diz:
precisa não
agora sim. diz:
nunca me dei muito bem com elas mesmo
agora sim. diz:
sempre trocava algum sinal
Adriano, uma lésbica presa no corpo de um homem diz:
comigo também era assim
agora sim. diz:
somos humanistas.
agora sim. diz:
não exatos.

sábado, dezembro 18, 2004

Hoje eu tô chata. Um porre. Divagações rasas, infundadas, inúteis, desinteressantes. E absurdamente tagarela. Feito uma menina de sete anos que quer porque quer saber porque que tem gente que nasce aqui e não acolá ou ali. Querendo saber o que acontece com o filminho que passa na cabeça da gente quando a gente planeja uma coisa e ela não acontece. Achando que não acontece nada no mundo, que parece que ele anda meio cansado, indisposto, sem vontade de tentar mais nada (você também não acha isso não?). Matutando aqui os percursos das coisas, das nossas ações, das pessoas, dos lugares, dos governos. Preocupada com a campanha de desarmamento, que apesar de lindíssima, impossibilita uma guerra civil, caso necessário um dia. Denominando o entardecer de bocejo do dia e lembrando que o de hoje foi lindo, enjoado, sonolento, dengoso. Um bocejo com hálito azedo de sono. Pensando seriamente em fazer uma escova definitiva porque estou completamente injuriada por a Marlene ser mais bonita que eu, em parar de beber por estar convencidíssima que bebida engorda, em me mudar pro sítio no mês de janeiro porque meu ouvido cansou verdadeiramente dos ruídos internos e externos que povoam a minha mente. Mas também estou muito, muito feliz com o povoamento da cidade desde ontem.

sexta-feira, dezembro 17, 2004

Prazer, Marlene.

quinta-feira, dezembro 16, 2004

et pardon mon cher, mais je t'aime.
.suspiro
Sonhos sonhos são. Ou não.

Meus sonhos andam cheios de sombras. Há uma que dá a volta em minha casa - uma outra, em construção, mas que reconheço mais como minha que a em que vivo -, sempre que apareço, e só lhe posso ver os pés. Tem outra que aparece atrás de uma janela de vidros embaçados, que é só luz, sombra e movimento, mas está lá mais do que qualquer outra coisa. Alguns agouros, vozes que me sussuram absurdos, mãos sem dono no meu ombro, cabeça, mão, olho assustada e é só mão, sem dono. E estou sempre andando incessantemente, de um lado para o outro, sem rumo, feliz, mas em círculos, em torno de mim mesma, até topar em outra sombra.

terça-feira, dezembro 14, 2004

Eu não entendo nada de música. Até gostaria mas acho que precisaria dedicar um tempo que, para isso, talvez, hoje, eu não esteja tão disposta a dispender. Mas entendo de narrativa. Não, também não entendo de narrativa. Mas eu teimo em achar que sei quando a música contrói uma, em achar que tem gente que vai preparando o ouvido do outro para cada agudo, grave ou mudança brusca de espírito. Que em "Por una Cabeza" há claramente um diálogo e que eu sei até qual é o assunto da peleja, mas que gosto mais, muito mais, da parte em que "eles" "falam" juntos, apesar de, logo depois, "ela", conformada, não encerrar a questão com um final feliz, como se a tragédia fosse inevitável. Tangos.

sexta-feira, dezembro 10, 2004

Muito ruim a sensação de "a morte passou por aqui".


Acordeão é um instrumento lindo. Principalmente quando no tango. Mas aí, vira Acordeón.


E tenho achado que o cabelo assim um pouco acima da altura dos ombros enrolando as pontas para fora passam a impressão de um descolamento meio tenso, severo, bem o inverso da que eu quero pra mim.


quarta-feira, dezembro 08, 2004

Não pode ser tão difícil assim. Difícil não o caminho, caminhar é bom. Difícil é não ter dúvidas, recaídas e inseguranças. Acreditar piamente nas coisas, tudo de novo. Difícil e ter certeza de estar fazendo a coisa certa, e tão quanto, ou mais ainda, as coisas certo. Difícil mesmo é fazer coisas. Mesmo as boas. Mesmo quando em algum lugar um anjinho ou um diabinho diz é isso mesmo, vai, faz. Difícil sair dos dilemas que você se mete e que talvez nem precisasse, mas que ao mesmo tempo se pergunta que se ao achar precisar não já estivesse precisando. Difícil é entender a estratégia, achar o caminho livre do labirinto, desemaranhar a teia, frágil, dos acontecimentos. Difícil buscar alguma coisa dentro de si, porque é sempre a mesma coisa, e é sabido que ela nunca está lá, que talvez - e é bem mais provável que - ela nem exista. Difícil ser imóvel quando se pensa em asas o dia inteiro. Difícil. Como é difícil também carregar um sonho, o mesmo sonho, durante anos; suportar uma frustração, nova, inesperada e louca; manter a aparência, a juventude, a educação, o humor, a sanidade, a fé, a vontade, a labuta, a luta, o patriotismo, a casa, a gaveta fechada. É difícil ter coisas a dizer quando o mundo já está farto. De tudo. É difícil o calor, o envelhecimento, a dor nas costas, o buço que cresce, a carne que amolece, o pé que racha. É difícil achar que a cercania é pequena e estar dentro dela sem irromper porteiras. Mais ainda quando se sabe que os portões, os verdadeiros, são outros, de um aguçamento de intelecto que talvez nunca se alcance, mas sabendo da possibilidade (necessidade?) da sua existência. Redundante e difícil buscar um olhar que seja outro, pelo amor de deus, outro, porque estes há muito tempo não servem mais pra nada.

sábado, dezembro 04, 2004

São as escolhas.

É, são. São as escolhas.

quinta-feira, dezembro 02, 2004

Achando que eu deveria estar entendo alguma coisa e não estou. Achando a porra desse mundo um lugar infinitamente estranho e que esse talvez seja o meu comportamente natural, apesar de me deixar melancólica e sensível demais. Procurando um lugar no mundo que caiba minha vontade. Ou nesta cidade incoerente.