segunda-feira, abril 01, 2002
Não entendo essa minha dificuldade para me desfazer das coisas. Tenho tudo guardado, bilhetes, cartas, cartinhas, declarações de amores passados, cartão de natal, de aniversário, de primeira comunhão, o adesivo do ovo de páscoa, capas de caderno, folhas do caderno, cadernos, e-mails, presentinhos tipo, conchinha, marcador de livros, lacinho de embalagem, embalagem, cartelinha de adesivos, essas coisas que ficam nos remetendo ao passado. Fico pensando o porquê disso às vezes. Tem um lado que acho legal que é o de ser a minha história, essas coisas pra mim poderiam funcionar como documentos históricos que me evitam esquecer de fatos e pessoas que não estão mais muito presentes na minha vida, as datas, as horas estão nesses documentos e é bom poder visitar o meu passado de vez em quando, quero tentar dar conta pelo menos da minha vida toda. O outro lado disso está íntimamente ligado com o primeiro mas é diferente na maneira de ver. É o lado melancólico do já passou. Sei que tenho problemas quanto a isso. Sei que tenho dessas coisas de ficar remoendo os acontecimentos até não poder mais, de tentar estender esses momentos o quanto posso. Sei que não é normal, devo ter algum problema psíquico, ou lucidez demais, mas de qualquer forma não é muito normal. ... Pensando bem, o quê que é o normal? Se acostumar com a idéia de que a vida vai passar voando e mais rápido a cada dia e que daqui a uns dez anos vou estar conformada e com filhos esperando por mim para dizer-lhes os porquês que nem eu mesma sei? É se acostumar com a idéia estranha de ter que se ter para poder viver, quando tudo já está aí, de graça e disponível na natureza? É ter que se acostumar com o passar das coisas, dos dias, dos verões, e achar tudo normal, que a vida é assim mesmo e que não adianta se perguntar, ou ir de encontro às coisas? É ir de encontro às coisas somente por achar que elas não deveriam ser assim e cometer o mesmo erro de quem se acomoda com tudo?... Não sei.
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