domingo, agosto 24, 2003
e isso é muito engraçado porque, quando aquele senhor careca e barrigudo, que se encostou no corrimão perto de onde a banda tocava, me olhou, foi no que eu pensei depois de lançar-lhe um olhar severo e mudo. Que esse meu olhar para ele ia se perder no meio da minha vida, que ia ser perder no meio da duração da espécie, que vai passar pelo mundo um dia, que não é mais que um bloco de terra e água que já já vai explodir no universo e fim. É isso que me justifica muitas vezes quando eu quero alguma coisa que parece louca e é isso que me traz quando quero deixar pra depois alguma outra. E olho para eles no palco e posso até prever cadáveres e ruínas. E por uns instantes isso importa muito. Loucura? Pode ser. Deve ser. E piora quando tento encontrar então um porquê de estarmos aqui, agora, eles tocando, eu ouvindo, alguns bebendo, outros beijando, outros contando causos no banheiro. E isso importa? Claro que não. E nem tem como eu falar nisso sem ser repetitiva ou cacofônica. Mas eles estão lá tocando, posso ouvir o sopro, a batida da baqueta no bumbo, e quando tudo começa a ficar com cara de vão, de à tôa, eu penso que vai ver que é bom porque é assim. E ainda assim não esqueço que o olhar severo que eu dei para o senhor do corrimão vai ser diluído todo no meio do tempo e fim.
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