domingo, novembro 02, 2003
e agora eu era certeza. E gostei quando li, O que é que eu fazia com aquela rosa? Fazia isso: ela era minha. Eu não era a rosa. Você era, por que eu entendo a rosa. Você não. Você entendeu o pneumotórax mas não entendeu o tango argentino. Azar o seu. E o meu, consequentemente, que sou uma pessoa sem lugar esbarrando nas paredes. E o meu, que sou uma pessoa que está pronta pra chorar mas o olho só se molha, não se derrama logo todo. E que ainda acho que é porque aperto a boca e prendo a respiração. Não é por isso, claro que não. Eu não sei chorar, faço isso raramente, assim, bem de verdade, com prazer. E agora eu era costume. E não sei explicar bem isso. Ou como foi isso. Sei que rosa não acostuma, passa rápida. A gente põe no vaso sempre quase correndo e vai dormir com ela sabendo que ela não amanhece mais. Não mais daquele jeito. E ainda fica mais linda, mais humana, mais real, assim, meio murchinha, cabisbaixa, imperfeita. Assim acabaram-se as invejas e as vaidades. Afinal nos compreedemos. Já não sofro, já não brilhas, mas somos a mesma coisa. E agora eu era um não sei nem o quê. Uma camisa de estimação que já ficou meio apertada. Uma gaveta de trequinhos, dessas que todo mundo tem. Um cordão com o fecho quebrado esperando pacientemente o conserto que não acontecerá. Ou um vaso que está lá sempre ali naquele mesmo canto da parede, pelo menos até ir dormir, pelo menos enquanto o podem ver. Nas outras horas ninguém garante. Vaso vazio, com um parafuso, uma borrachinha preta que talvez um vedou alguma coisa, uma argolinha de ferro (como era mesmo o nome daquilo?) que se usaria perfeitamente num cordão se ela já não pertencesse ao parafuso (porca!), teias, areia (que incrivelmente fora parar ali. como ela pode aparecer alí se ninguém levou-o a algum lugar com areia ou pôs-lhe areia dentro?), toco de lápis (sem ponta), um brinco infanto-juvenil (de plástico, rosa, forma de coração) sem par, um ou outro bichinho. Vaso véio que já enraizou no chão da sala e que, no entanto, queria crescer pra passarinho.
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