- Porque isso agora?
- Porque de tudo ficou um pouco.
- Não muito. Ficaram poucas roupas, poucos véus rotos, pouco, pouco, muito pouco.
- Se de tudo fica um pouco, mas porque não ficaria um pouco de mim?
- Do teu áspero silêncio, um pouco ficou.
- Da rosa ficou um pouco...
- Ficou um pouco de ruga na sua testa.
- De ternura ficou um pouco.
- Mas de tudo terrível fica um pouco: do meu medo, do teu asco, dos gritos gagos.
- Fica um pouco do teu queixo no queixo da tua filha. Um pouco de mim, de ti, de Abelardo...
- ...deste vidro de relógio partido em mil esperanças, do maço vazio de cigarros.
- Abre os vidros de loção e abafa o insuportável mal cheiro da memória!
- Ficou um pouco de tudo.
- Fica sempre um pouco de tudo.
- Às vezes um botão, Às vezes um rato.
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