Ela me tira o pensamento. Parece uma toalha molhada em cima de uma cama desarrumada. Algo que não deveria estar. E bagunça úmida. Adiposa, lenta. Ela é meu atraso de vida, minha perda de tempo. Enquanto ela, lá na frente, não fala, porque, para mim, falar é estabelecer uma exposição lógica de um pensamento, eu fico aqui, tentando, em vão, teorizar sobre o estar aqui, sobre a gagueira dela, sobre o cabelo que incomoda a existência, aliás, é isso, eu me incomodo coma existência dela. Com a ineloqüência profunda dela. Com o olhar vago, perdido, burro, dela. Dela se torna um adjetivo, até, nela. Tudo é asco. A cor do batom e o contorno da boca. O tom da voz e o ritmo - ou desritmo - da fala. A papada debaixo do braço. O cesto do estalar dos dedos. O queixo erguido perdido no espaço. O sorriso vazio e bobo sempre seguido de uma pausa enfática. Nojo. É isso. Ou ódio. Ódio deve ser esse nojo gratuito que eu sinto por ela. E que eu cultivo. Ódio deve ser mesmo isso. E a cada reticência gaga no discurso dela a minha intenção é a de uma violenta morte. O "Entende?" dela é a própria morte.
O pior de tudo é que, depois de todo esse tempo escrevendo, pergunto e ainda faltam 22 minutos. Porque nesta aula é assim, o tempo decresce, talvez numa tentativa de excluir da mente as horas que passamos aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário