Em setenta, até já havia esquecido, ele tinha costeletas, lábio carnudo escarlate, dentes de marzipã, tantos cílios que pesam as pálpebras sobre os olhos verde-água, bigode terminando nas covas, uma energia revolucionária saltando a jugular e a testa franzida por uma inteligência ativa. Inaugurava o Teatro Bandeirantes e cantava os dias após os outros dias - e até acho que soubesse bem no que ia dar a passagem dos anos teria tido mais pudores.
Penso na minha mãe, aparece em meia dúzia de fotos avermelhadas com a minha idade, trabalhando 30% a mais que eu, cuidando de marido, dois filhos, mãe, pai, irmãos e enrolando os brigadeiros do meu aniversário, linda, muito mais que eu, e disposta. Só podia ser o Chico Buarque. Que ainda era lindo e jovem e aparecia cantando - você vai me velar, chorar, vai me cobrir e me ninar, menina - na televisão.
Um comentário:
que lindo biréraaam!
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