quarta-feira, novembro 15, 2017


e ainda sob as noites eu penso em você. foi um amor, seu amigo lhe disse, era eu o um amor. é, foi um amor, você respondeu confirmando, um amor, era eu o um amor. e ainda às noites sob os dias felizes, os mais felizes, eu tento entender por que penso em você, por que penso nesse em quem você nunca foi, nessa completa inexistência de você. eu era esse um amor e penso agora, à noite, nessa noite que encerra um dia meio lúdico na semana de trabalho, um feriado na quarta feira parece um pombo saindo de uma cartola de mágico, pois em um feriado, amanhã dia feira, e eu, nesse meio tempo entre o o mágico e a feira, penso em como é ter sido esse um amor para você nesse passado vaporoso, nesse passado sobre o qual às vezes penso mas que diabos é esse passado feito de nada mas que existe, existe?, não, claro que não existe, então o um amor não existe, o amigo não existe, nem o mágico, nem a feira, e de repente não existir existe demais porque a memória que é inventada permanece de um jeito meio bruto como quase tudo o que não existe, como os uns amores que se perdem nas calçadas das ruas que contornam as praias das cidades, como o choro engolido que não foi derramado no dia que o avião saía para o sul, como o outro filho que ainda não veio e já é capaz de triplicar a distância entre todos os passados inexistentes que supõem engendrar algum amor. o algum amor que afinal se esgueire como um ladrão por escuras escadas de um prédio velho de um bairro agitado em alguma cidade maravilhosa, que aguarde a campainha atender para poder entrar como se nem estivesse em um pedaço de apartamento, talvez o canto de uma sala, mas rápido porque sempre alguém pode chegar, alguém que existe, ainda que não um amor. alguém que não um amor mas sólido como uma torre de palavras.