domingo, janeiro 30, 2005

mas, juro, não faço idéia do que aconteceu. e a cabeça ainda tonteia.

quinta-feira, janeiro 27, 2005

Há uma casinha, em algum lugar, e uma plaquinha, escrito, Mirella.

segunda-feira, janeiro 24, 2005

O que realmente importa? O que é importar? O que é importar-se? O que isso significa? Para quê tantas perguntas? Por que nenhuma às vezes? Por que o silêncio? Por que o outro lado do que é ruim, sempre tentando consertar, dar algum sentido, fazer valer a pena? Por que tanto movimento vão? Tanto tanta gente para um lado e para o outro o tempo inteiro? Por que os gatos não são todos de Cheshire? Por que meu pai não levanta as chinelas? Por que tem essa coisa dentro da gente que segura um minuto de desespero e tristeza mas logo arruma um jeito de espantar a bicha pra bem longe? Por que o pôr-do-sol ou é nostálgico ou é romantico? Por que as pessoas não usam mais os parágrafos? Por que tem gente que não dança? Por que não existem paredes em lápis-lazuli por toda a cidade? Por que os pratos acompanham tão bem as cornetas? Por que é que é sempre assim: vá até o fim, depois dobre a esquerda.
Tristeza
e bebida realmente não combinam.

Eu
quero assistir Amélie Poulain de novo.

E
tudo se explica no cello daquela música, a orchestral, que me faz fermer mes yeux. É aquela palavra que eu quero e não existe. E nem eu sei inventar.

domingo, janeiro 23, 2005

Se
nem os sins são eternos os fins é que não vão ser. Mas deviam.

E
eu só queria que essa cidade fosse menos perigosa.


Não pode ser coincidência eu ter pensado essas coisas justo hoje. Não mesmo. Ainda mais, antes.

quinta-feira, janeiro 20, 2005

Ando amealhando. Juntando pra guardar. Coisas, pessoas, sonhos. Sem uma filtragem, sem uma hierarquia de prioridades, sem uma estratégia definida. Ultimamente as coisas se dão, surgem, explodem, somem, sem controle algum, ao menos um que seja meu. Tudo ao mesmo tempo agora. E tudo eu quero e tudo é importante e tudo é urgente e tudo seria bom se desse certo. Se desse certo. Se. Partícula sempre presente, esse se. Eu ando parecendo não querer mesmo controle algum.
Vou ali, desentupir algumas veias.

quarta-feira, janeiro 19, 2005

Quase que fui uma nobre façanha concebida em uma fortaleza.

terça-feira, janeiro 18, 2005

Eu
nunca, em toda minha vida, li um "livro de explicação" tão avidamente.

Preciso
urgentemente de uma lapiseira, senão os grifos surgirão de caneta, e, ai ai..

E
também de outros livros desses.

segunda-feira, janeiro 17, 2005

Um dia eu cansei. Daqueles cansaços do mundo mesmo, de desistências e afins. Ela vem e me diz, Mas mirella, não é assim, cansei e pronto. Eu fiquei aqui martelando, apesar de ter dito que Que não fosse daquele jeito, eu tinha cansado do mesmo jeito. Mas fiquei aqui com os meus botõezinhos pensando nas palavras dela. Achei de tentar, realmente não podia ser daquele jeito, mesmo não conseguindo pensar em nenhum outro pra ser. Pois hoje pensei de novo, e, quer saber? Cansei.

domingo, janeiro 16, 2005

Chico tocando. hoje o samba saiu procurando você quem te viu, quem te vê. Mamãe passa devaneando, do nada, por nada:

- É, tem que pensar que esse ano vai ser bom.

Quem não a conhece não pode mais ver pra crer. E olha pra mim:

- Né?

Quem jamais a esquece não pode reconhecer. Eu:

- É. Nem que não seja.

Nosso samba ainda é na rua.

- Ou nem que tenha que ser todo a base de Chico Buarque.

quinta-feira, janeiro 13, 2005

Sim, eu tenho dessas coisas.

Depois de ver as 776 Mirellas do Orkut não pude deixar de ter as seguintes conclusões:

- Mirellas são morenas, em sua enorme maioria.
- Mirellas têm cabelos longos e lisos, quase invariavelmente.
- Miellas têm a pele branca, todas.
- Mirellas quase nunca têm olhos claros.
- Mirellas são sempre risonhas ou sexies ou, pelo menos, bem-humoradas.
- Mirellas não usam óculos.
- Mirellas sempre têm sobrenomes como: Bellinazzi, Bellini, Belotto, Benetti, Benini, Bernardi, Bernini, Bertollucci, Biasotto, Boaglio, Bolognesi, Bonaroti, Bonetto, Boscatto, Cacciatori, Capuzzo, Carbonieri, Carnicelli, Caselli, Castigli, Ciarelli, Coccaro, Corazza, Dancieri, Dellazari, Domenich, Fazzito, Frazatti, Franchini, Fuschini, Garutti, Gigliotti, Giracca, Guarnetti, Iaconelli, Imbroisi, Immezi, Lombardi, Luiggi, Lupinacci, Marcolini, Marella, Margutti, Massolo, Perroni, Perruci, Peruzzo, Picchi, Picciarelli Seppe, Piccone, Pieroccini, Ramacciotti, Rampazzo, Recinella, Santolia, Scarlati, Scorza, Sibinelli, Simonelli, Tambellini, Tomaselli, Tomazella, Tridapalli, Ugolini, Valentini, Vecchiati, Vegini, Vicinelli, Vigevani, Vigiarelli, Vitalino Bonomi, Vizzini, Vizzotto, Zanelato, Zaniboni, Zanutto, mesmo quando são brasileiras. Aliás, são todas brasileiras.
- Mirellas gostam de seus nomes, senão não os publicariam tanto.
- Mirellas são todas "Mi".
- Que pode até existir uma Mirella Façanha, mas Mirella Adriano só tem Eu.
- E que eu estou, além de insone, com preguiça de ler, verdadeiramente.
Eu quero. E hoje esse desejo está me consumindo: Levando o peito embora. Borges usa dois pontos no lugar da vírgula quando vai explicar acrescentando novos dados. Eu quis e fiz igual. Eu quero. Eu quero o mundo: urgentemente. Eu quero que não se preocupem mais com a permanência da minha vida, com que eu seja alvo da violência das cidades, com que eu tenha algum futuro, com o suprimento das minhas necessidades básicas diárias. Eu quero que me deixem. Eu quero negligência. Mas quero que essa porra desse mundo permita que eu sobreviva. Eu quero: entender. Descobrir uma forma de ser. Eu quero os esquemas kamikases. Eu acho a sua letra linda.

terça-feira, janeiro 11, 2005

Alice no Meu País


- (...), o arcebispo patriótico de Canterbury, achou isso recomendável...
- Achou o quê?
- Achou isso recomendável. É claro que você sabe o que "isso" significa.
- Sei muito bem o que "isso" significa, quando eu acho alguma coisa. A pergunta é: 'o que foi que o Arcebispo achou?

***

- Quem é você?
- Eu... eu... no momento não sei, minha senhora... pelo menos sei quem eu era quando me levantei hoje de manhã, mas acho que devo ter mudado várias vezes desde então.
- O que você quer dizer? Explique-se!
- Acho que infelizmente não posso me explicar, minha senhora, porque já não sou eu.

***

- Por favor, poderia me dizer por que é que o seu gato sorri desse jeito?
- É um gato de Cheshire. É por isso.
- Não sabia que todos os gatos de Cheshire sorriam. Para falar a verdade nem tinha idéia de que os gatos sabiam sorrir.
- Todos sabem. E a maioria deles sorri.
- Não sei de nenhum que sorria.
- Você não sabe muito. Isso é um fato.

***

- Poderia me dizer, por favor, que caminho devo tomar para sair daqui?
- Isso depende bastante de onde você quer chegar.
- O lugar não me importa muito, desde que eu chegue a algum lugar.
- Então não importa que caminho você vai tomar.

***

- Visite quem você quiser, ambos são loucos.
- Mas eu não ando com loucos.
- Oh! Você não tem como evitar. Somos todos loucos por aqui. Eu sou louco. Você é louca.
- Como é que você sabe que eu sou louca?
- Você deve ser, senão não teria vindo para cá.

***

- Tome mais chá.
- Ainda não tomei nenhuma xícara, por isso não posso tomar mais.
- Você quer dizer que não pode tomar menos. É muito fácil tomar mais que nada.

***

- E qual era o curso regular?
- Lerdear e esquivar, para início de conversa, e depois os diferentes ramos da aritmética - Ambição, Distração, Amiudação e Derrisão.
- Nunca ouvi falar de Amiudação. O que é?
- Nunca ouviu fala de amiudar! Você sabe o que significa agrandar, não?
- Sim. Siginica... tornar... algo... maior.
- Bem, nesse caso, se você não sabe o que é amiudação, você é uma pateta.

***

- Leia-os
- Onde devo começar, Vossa Majestade?
- Comece pelo começo e continue até chegar ao fim, então pare.

***




Eu queria ser um tipo de compositor, capaz de cantar nosso amor modesto
Um tipo de amor que é de mendigar cafuné, que é pobre e às vezes nem é honesto
Pechincha de amor, mas que eu faço tanta questão
e se tiver precisão, eu furto
vem cá, meu amor, aguenta o teu cantador
esquenta, porque o cobertor é curto

eu queria ser um tipo de compositor, capaz de cantar nosso amor barato
um tipo de amor que é de esfarrapar e cerzir, que é de comer e cuspir no prato
mas levo esse amor com zelo de quem leva um andor
eu velo pelo meu amor, que sonha
por fim nosso amor também pode ter seu valor
também é um tipo de flor que nem outro tipo de flor
um tipo que tem que não deve nada a ninguém
que dá mais que maria-sem-vergonha.

quinta-feira, janeiro 06, 2005

- Bia, peraí, não vai não, deixa eu ler isso pra ti. Quer ouvir?
- Não, Mirella, que tu fica lendo nessas lingua e eu num entendo nada...
- Não, Bia, peraí, tu vai achar bonito.
- Hunf...
- Quel est le rapport entre Alice et les caniveaux de Paris, me direz-vous? C'est simple: l'introduction de Steadman au Lewis Carroll qu'il a illustré éclaire d'un jour puissant l'inspiration des affiches de Searle.
- ...
- On y sentait bien une certaine véhémence vigoureuse,
- (rindo) ...
- on est maintenant...
- (gargalhando) ...
- ... on est maintenant assuré qu'elle n'est pas de commande...
- É o quê? Uma surra de pau?
Eu devia ter nascido rica em vez de sambista.

segunda-feira, janeiro 03, 2005

El mundo no está precisamente loco, pero sí demasiado
decente. No hay manera de hacerle hablar cuando está borracho.
Cuando no lo está, abomina de la borrachera o ama a su prójimo.
Pero yo no sé sinceramente qué es el mundo ni qué son los
hombres.

Odeio insônia.

domingo, janeiro 02, 2005

- Tu não vai?
- Não.
- Eu te conheci outra.
- Eu me conheci várias.
2005 começou bonito aqui em mim. Sem nenhuma euforia. Nenhuma tranquilidade - ou paz, ou algo que o valha - é verdade, mas também sem dessas alegrias estonteantes de momento. O ano começou. Acabou-se uma noite, levantou-se um dia e pronto. Nenhuma mágica, nenhum sonho encantado, promessa que sei não cumprir, peso a menos nos ombros. O ano veio, só isso. Porque é só isso mesmo que acontece. Eu sou a mesma pessoa de anteontem. Nem mais feliz, tampoco qualquer outra coisa. Das minhas observações solitárias o encantamento maior foi o de imaginar que a terra tinha acabado de voltar ao mesmo lugar de onde tinha partido no mesmo dia do ano passado, como um viajante que marca um ponto arbitrário e, após correr o mundo, retorna. Acho até que por nada. Ou para começar tudo outra vez, o mesmo percurso. E vai ser tudo diferente. Mas ainda a mesma coisa sempre. Para mim sempre esse grande mistério que não encontro outra forma de descrever, sempre diferente, mas sempre igual. E que isso não desmotive, incomode ou entristeça. Que isso apenas seja. Que os anos venham e que eu nunca mais seja contagiada por aquelas falsas esperanças datadas, por dessas alegrias eufóricas desesperadas, porque um ano deixou de acabar ou não. Ainda mais porque neste planeta os homenagiados estão sempre mortos, não importa quantas voltas ele dê. Os silêncios, os fogos, os hinos, os eu sinto muito, são todos para eles, tanto faz onde acontece a tragédia. O mundo só sabe condecorar a dor. Pois ano, venha, se é o seu ofício vir.


Mas é também verdade a folia que os fogos de artifício fazem no peito. Será por isso os chamam de artifício? Que seja. São lindos.