sábado, maio 31, 2003

eu nunca mereci. voce é que nao via isso. nem procurei merecer. voce é que queria que eu merecesse. se é que queria. mas eu disse eu deixo, nao foi? eu deixo. eu deixo, porque já tem de voce em mim alguma coisa. independente e independentemente.

sexta-feira, maio 30, 2003

voce invade mais um lugar onde eu nao vou.
Sabe, não dá mais tempo. É sempre assim, com todas as coisas. Pior é que eu já sei. Não dá mais tempo de muitas coisas. E todas estão bem juntinhas, pregadas. E a cara é a mesma. Tudo bem, eu deixo. É o que eu digo sempre. É o que eu penso? Eu não pensava nada antes de dizer. Depois de dito, virou pensamento. Eu deixo porque não vai sair do lugar que está. O canto já está assegurado e não pesa levar. Não sei o que é isso, não me pergunte, eu tenho esse lance de ter segredos só meus. E eu vou cuidar. Mesmo não dando tempo. Eu vou cuidar porque só sei se for assim. Mesmo que cuide em segredo. E esse negócio de tempo é engraçado. Dá vontade de cantar pra ele, quem tem medo do lobo mau? Lobo mau? Lobo mau? Mas se a gente canta ele fica lá com aquela cara esquisita, faz que nem ouve, quando muito, um muxoxinho com a boca, assim, sabe, de desprezo meio forçado, e continua entrando. Ainda dizem que ele é um cara legal que resolve tudo. Sei não, hein! E digo pra ele que sou eu que tomo conta. Que ele deixe que eu cuido do que é meu. E quem disse que era seu? E diz que vai levar embora. Eu digo que escondo num lugar bem fundo, bem escuro e complicado de chegar. Ele diz que não precisa nem saber do caminho, que leva embora, que é sempre assim, que as coisas acabam não ficando guardadas muito tempo. Mas eu digo que quero. Ele diz: vamos ver. E agora, um cheiro bom no cabelo que sei seria muito bem recebido. Sensação de perda estranha. Mas como é que se perde algo assim? Como não saber onde deixou? Será que algum dia tinha mesmo guardado no bolso? Será que o bolso tava furado? Será que caberia no bolso? Será que muda assim a signifcação? E o olhinho doente pede tempo, não agüenta mais. Mesmo que soubesse que aquilo tinha um tempo, e isso eu sabia mais que tudo, o olho não acostuma. Nem as mãos, nem os pés. E recorro aos antigos meios. Será que ainda faço isso? Sei lá. Mas sei que o tempo não está para brincadeira, que o tempo está de cara dura pra mim. O tempo da delicadeza passou voando que não deu nem tempo. De repente parece que até o satélite telecomunicacional tá de brincadeira comigo. É nao. É ele mesmo, que não atende. Mas eu não já disse que eu deixo? E que depois de dito, virou pensamento? Então tenho que deixar. Aliás, não tenho que deixar nada. Não depende do meu deixar. Não depende de nada. Só quero é que o tempo chato não me leve embora o que eu quero ter guardado. Ai, se ele leva, não sei não! E sei que entristeci, quando li na agenda, 19 de maio, que diálogo manter com um tempo que se evapora aos nossos pés sem deixar rastros ou marcas? Evaporar-se também?
Onda.Tudo o que sobe. Ânsia de vômito. Vontade de comer chocolate. Aquele brinquedo que voltou agora, o vai-e-vem. Twist. Carnaval. Viagem de ida. Efeito estufa. Corte em duna. Aterro no mar. Segurar o xixi. Menstruação. Você. Dor de dente cariado. Medo. O hit da rádio. Todas essas coisas uma hora voltam.
Eu não sei ser paciente ao contar histórias. Conto logo o centro da questão, a causa da morte do mocinho. Faço um resumo se ela parece interessante. Noutros pontos sou prolixa, desnecessária, até mesmo, burra. Hoje eu cansei de existir. Hoje eu queria ser, pelo menos, só no mundo.

quarta-feira, maio 28, 2003

É tão bom quando as coisas funcionam. E estranho.

terça-feira, maio 27, 2003

Agora pronto, me pego falando dele pras pessoas que não conheço.

quinta-feira, maio 22, 2003

dando um tempo do mundo. cuidar de mim um pouco. é hora.

segunda-feira, maio 19, 2003

escanchada. isso é palavra que se invente?
- Por qual dos dois caminhos devo seguir?
- Aonde você quer ir?
- Não sei.
- Se você não sabe para onde ir, tanto faz qual dos caminhos irá tomar.
“Mas é duro ficar na sua quando há luz da lua”

domingo, maio 18, 2003

é sempre assim, bem no meio, a respiração acerta o passo, o compasso, o ritmo. sobe, desce e roda, eu de olhos fechados. tento não acompanhar, mas acho que não deve ser voluntário, a partir dali, daquela nota a respiração já não me pertence, o coração dispara - também no compasso, os olhos cerram. e eu, rodo.

sábado, maio 17, 2003

Sou mais eu porque sou você.

sexta-feira, maio 16, 2003


ela saiu de casa obstinada. ligou, ligou, ligou. nao atendeu. nao ligou, comprou dois chocolates e eperou. esperou. ... esperou. ligou. procurou. deixou recado. foi dormir. no outro dia ela até tentou, mas nao dava certo, ela viu que nao dava. agora ela come os dois chocolates sozinha e feliz na última sessão do cinema.

quinta-feira, maio 15, 2003

Você atravessando aquela rua vestida de negro e eu te esperando em frente a um certo Bar Leblon. Você se aproximando e eu morrendo de medo, ali, bem mesmo em frente a um certo Bar Leblon.
Quando eu atravessava aquela rua morria de medo de ver o teu sorriso e começar um velho sonho bom. E o sonho, fatalmente, viraria pesadelo, ali, bem mesmo em frente a um certo Bar Leblon.
- Vamos entrar...
- Não tenho tempo.
- O que é que houve?
- O que é que há?
- O que é que houve, meu amor, você cortou os seus cabelos.
- Foi a tesoura do desejo, desejo mesmo de mudar.

quarta-feira, maio 14, 2003

ê lelê...
E agora que ele se foi, um cheiro bom que chega a quase estar. Deixou doce aqui em mim.

terça-feira, maio 13, 2003

Hoje li, no começo em homenagem a Carol (para falar a ela sobre a Ana T), depois, por mim, mesmo, pela septuagésima octogonésima vigentésima quinta vez, Ana e Pedro. Lembei que passei anos tentando, procurei endereços de desconhecidos, tentei com o Igor, amigo de Brasília, mas não dava certo. Não eram (ou éramos) pessoas tão interessantes. E aí o Pedro do livro diz “Pedro é um sonho bonito de Ana”. E eu me lembro que na infância, não sabia o que era ser um sonho bonito de alguém, dirá ter alguém para sonho bonito. Hoje tenho. E não tá dando. Porque é bonito mas é sonho. Só sonho. E não manda cartas. Tive saudades do colégio. Das pessoas. Das despreocupações. Saudade do que eu planejava. Saudade do que eu não tive. Saudade de contar com o um na escritura da idade. Saudade de ter saudade do futuro que era só brincadeira. Saudade de mim lendo aquele livro. Do que eu pensei. Do que eu sonhei. Saudade do tempo que não tivesse passado nunca. Que ainda fossem salas de aula brancas e corrida de carteiras. E de inexistir no mundo. Saudade de não ocupar nenhum lugar. Saudade muita, de tudo, como nunca tive e pensei nunca ia ter. Principalmente da história que nunca houve. Saudade tanta que dói.

segunda-feira, maio 12, 2003

não tá dando.

domingo, maio 11, 2003

Eles são uns dois lindos. Ele e ela. Amei a visita. E a telepatia.
Não me olhe assim. Mandei. Mandei e pronto. Não devia mas mandei. Acabou-se. Não dá mais pra chamar de volta, se perdeu lá pelos satélite. E não sei porque depois que eu faço as coisas você me aparece. Dona, já não adianta mais. A senhora sempre chega atrasada.

sábado, maio 10, 2003

Mas hoje a dor é na alma.

sexta-feira, maio 09, 2003

Ela acolhia as homenagens como se fossem ofensas, era como se fizessem dela uma imagem talhada a machado, grosseira e fascinante, e que ela tivesse receio de topar. Somente ela mesma podia pensar certo a respeito de si própria. E pensava sem palavras, era uma certeza terna, uma carícia. (p72)

quinta-feira, maio 08, 2003

Domingo à tarde. 15 e 21 da tarde, mais precisamente. O silencio de ressaca dos homens torna aquela cidade uma cidade deserta. Isabel, até ela dorme. E estão todos, se não dormindo, em frente à televisão com alguma comida de ontem, assistindo algum domingão de alguém ou de alguma coisa. Mas tudo muito calmo e discreto, porque domingo é o dia em que o cansaço deve reinar. E por horas naquele bairro de classe média alta daquela não tão grande cidade, não se incomodavam as pessoas. O silencio era providencial. Até o instante em que passa um homem na rua. Ele grita. Esbraveja. E de forma tão quebrada que não dá pra se acostumar com a gritaria, diferentemente do shhhhhh dos carros de classe média alta passando às vezes na avenida. Esse homem talvez não se preocupasse em incomodar, talvez mesmo, nem o quisesse. Queria só gritar o que tinha de gritar. E ninguém entenderia, como se falasse em outra língua. Devia vir de muito longe esse moço, não sabe que aqui, hoje, é dia de ressaca? Que ninguém deve incomodar? Essa foi a sorte do homem. A vaidade das pessoas, que preferiam um gringo inconveniente gritando a seus homens famintos. E nem se importaram.

quarta-feira, maio 07, 2003

Quem não me conhece que não me compre. Que eu não dou a mínima para o comportamento do consumidor.
‘‘O próprio amor se desconhece e maltrata’’
E se as palavras são fuga da realidade, o que é a rotina? O que são as relações sem profundidade que somos obrigados a manter? O que é ter que acordar para fazer o que não se quer fazer? O que é passar pelo mundo e não entender nada, nem porque não entender? Levar uma vida que sabemos que vamos nos arrepender em velhos? Se subestimar? Brincar por não entender? Brincar necessita de inteligência. Não é qualquer brincadeira que serve, que dá a leveza necessária. O que eu acho mesmo é que o mundo é isso que você está vendo. E se fecha. O mundo não é romântico, não é lírico. Não mesmo. Nem o romantismo é romântico, que dirá o mundo. O mundo é sério. O mundo é pra valer. O mundo é de verdade. Assim como as palavras. Elas não são estética. Elas são idéias.
Hoje fez sol forte. E vento na rede.

segunda-feira, maio 05, 2003

O dia não amanheceu bonito hoje para a dor. Mesmo sendo de graça o sonho, com dor fica mais difícil, eu sei. O dia quando chove fora é dentro que molha. Por que a chuva é sempre mais preocupada que o sol forte. E mais sozinha. A chuva esconde a gente. Deixa tudo cinza, aí a gente lembra o quanto a gente é cinza. E quer tudo menos viver, principalmente quando já não se quer. Eu sei também. Pesa o corpo ainda mais. Os ombros. Isola a gente ainda mais. Faz querer gente perto, do lado, pra abraçar quentinho, pra chover perto da gente um pouco. Com chuva é mais duro, é mais dor. Despedaça, bagunça, cansa. E não vou dizer que é preciso, porque não é. É injusto, isso sim. Absurdo. É lamento, tragédia, desgraça. É inconsolável. É triste. E as vezes muito triste. Mas não vai ser pra sempre, sei que não vai. E aqui a chuva logo passa. Certo, eu sei, dentro não passa logo tanto assim. Mas passa. Pelo menos a chuva. E com o sol forte, ainda que ruim, talvez seja um pouco mais fácil.

domingo, maio 04, 2003

Aproveita enquanto o sonho é grátis.
Ela quem me deu. De linda que é.
Um, dois, três e quatro,
dobro a perna, dou um salto,
viro e me viro ao revés
e se eu cair conto até dez (ai meu bumbunzinho).
Depois essa lenga-lenga toda recomeça,
puxa vida, ora essa, vivo na ponta dos pés.
Sem querer esnobar sei bem fazer um Grand Ecart
e para um bom salto acontecer me abaixo num Demi Plier.
Sinto de repente uma sensação de orgulho
se ao contrário de um mergulho pulo no ar num Gran Gête.

sábado, maio 03, 2003

Essas casas estranhas que não têm improviso. Que não têm espaços em branco. Onde os restos não servem pra nada. Sem cheiro de terra, sem pintura do rodapé descascada pela umidade. Sem privacidade, essas casas que são quase dentro de outras casas. Em que a paisagem são ladrilhos, azulejos da pior qualidade, grades, varais, janelas, desconhecidos, e Isabel, quase conhecida. Isabel sabe marcar seu espaço. Ela olha mesmo. Os outros sabem que não fica bem.

sexta-feira, maio 02, 2003

não tenho direito. foi por precisão, necessidade, bondade, boa vontade. é tudo teoricamente muito lindo, espiritualmente muito elevado. mas o que eu sei é que eu acho que não vou gostar dessa vida de ausência. mesmo que seja da mais, como se diz?, quando a coisa tem realmente motivo de ser... não lembro. mas por mais que haja o motivo dessa ausencia, eu não gosto dela. e não vou gostar de me acostumar.
E a luz que entra da janela evidencia a minha ruga precoce. E as minhas espinhas retardatárias. E as eternas olheiras e o olho que é maior que o outro. Aos vinte e um, penso que envelheço muito mais rápido do que deveria. Pior, lembro que penso sempre que nunca vou me ver velha em alguma superfície refletora. Mas nem é hora para o medo nem para o sonho. Deixo de sonhar o futuro também, porque o mesmo espelho que reflete um caco humano, reflete a vontade de juntar alguns cacos da humanidade. Mas não é hora mesmo, nem de caco nenhum. É hora de presente. Não de presentear, muito menos de se fazer presente. Na realidade no meu presente tenho que me fazer ausente. Até mesmo de meus medos e meus sonhos.

Agora, neste exato instante dentro do meu presente, uma sensação tátil que me foge.