quinta-feira, agosto 26, 2010

Queria ser Frida. Em vez de pintar espinhos, escreveria exílios. Então já não seria Frida. Seria silêncio branco, dente-de-leão no vento da tarde morna, talvez uma onda em alto mar.

Mas quando chegasse na arrebentação, iria para Lisboa, sentaria em uma calçada do Chiado, que tenho lá um coração. Depois que me abrisse a porta, seu sorriso franco me diria que só lhe faltava eu. E olharíamos as estrelas que dançam no alto do Tejo, abriríamos uma roda de samba em frente ao Brasiliana, tomaríamos chachaça e nos iria doer as saudades do nordeste. Eu lhe trazia um disco, de volta me guardava um livro, pequeno mas feito por suas mãos.

Ao final, ficaríamos bem. Comparíamos os óculos da moda, sairíamos à rua a cobrir tudo, quase selvagens. Aos poucos, com a memória exilada de tanto presente, teríamos nomes novos, nomes verdes e vermelhos. E como sobraria panos, brios, pedras! Nossa pele se tornaria negra e luminosa, teríamos poucos anos novamente e o futuro se faria longo num golpe de mágica.

segunda-feira, agosto 23, 2010

Belo Horizonte, 23 de agosto de 2010

Papai Noel,

Este ano fui boa menina. A começar pelo exercício do pensamento oriental, mongismo, doidismo e aplicação à vida de todos os ditados populares e praticamente de todo o Adagiário Brasileiro, de Leonardo Mota.

Considero que depois de tudo isso venho me tornado mais trouxa e mais frouxa, mas tem me feito muito bem. Canções populares têm sido muito bem-vindas, e destas, a número um das paradas de sucesso da minha rádio-mente vem na voz da dupla Caetano Veloso e Riachão: "Chô-Chuá, cada macaco no seu galho/ Chô-Chuá, eu não me canso se falar/ Chô-Chuá, o meu galho é na Bahia/ Chô-Chuá, o seu é em outro lugar".

Outra coisa que fiz muito bem feita esse ano foi não tentar mais muito. Pra isso eu lembrei de um ditado: Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura. E não é que fura mesmo? Depois que fura a gente fica livre, sem ter mais que ser duro. Tem gente que acha que é a água. Eu era a pedra. E tô furada, além de trouxa e frouxa. Quem quiser vir encher o saco vai passar pelo buraco e ter com outro, que eu me aposentei. E sempre tem aqueles, né? Sempre tem. Pois estes elejam outra pedra, que eu agora sou a Jericoacoara. Passar bem.

Se eu fosse você ficava orgulhoso. Não bato mais boca, não quebro mais copo, não dou mais a cara a tapa, nem acredito que gentileza gera gentileza. Gentileza gera trabalho. Veja você! Todo ano tentando ser legal, ajudar as pessoas, disseminando sonhos, e o que ganha? Trabalho. As pessoas em vez de economizar e assumir seus desejos, pedem as coisas a você. Ou seja, quando se é gentil, passa a assumir os problemas alheios. E o pior, uma vez que você faz isso, em caráter de favor, os outros entendem que na verdade é esse o seu dever. E aí, tente, bichinho, dizer que não vai fazer mais? Ôxe! Vai dar uma peleja. Mas ora, com quem estou falando isso? Você deve saber melhor que eu.

Sei que ainda estamos em agosto, mas escrevo apenas para lhe dizer essas coisas. Que este ano você não precisa se preocupar comigo. Tenho tudo, o que não tenho não preciso, e o que sobra são apenas chateações que tenho eliminado aos poucos, sendo assim desse meu novo jeito meio égua. Se eu fosse você, fazia feito eu, deixava todo mundo pra lá e tirava umas férias. Tenho um uma casa numa praia bem bonita lá no Ceará, se quiser pode ir pra lá. Isso de ficar tomando conta da vida dos outros é fria. Mais fria que esse polo norte, aí.

Beijos e Abraços,
Mirella.

sexta-feira, agosto 20, 2010

llevo el pelo en el viento
y dos ojos encendiados.