quarta-feira, agosto 27, 2003

A gente gosta de uma coisa, não sabe nada dela, ou sobre ela, mas gosta. Aí mostra pro amigo. A gente ouve a coisa toda misturada, linda, que parece até uma coisa só, e nem sabe porque acha linda, só acha, sem compromisso nenhum. Aí chega esse bendito amigo falando do violancelo. Tu não consegue uvir não? É esse tam-tam-tam ... tam-tam-tam, aí, ó! A gente não ouvia o violancelo, ouvia tudo misturado, agora tá com mania de separar as coisas e morrendo de vontade de conseguir misturar de novo.

terça-feira, agosto 26, 2003

mas ela ainda acha que a espera pela volta dele era melhor que a presença propriamente dita. Fazia-a mais feliz, ou pelo menos mais alegre. Enquanto esperava, muita coisa aconteceu. Quem olha de fora não pensa que não porque não há nem o que pensar. De fora, nada aconteceu. Mas enquanto ela esperava, ela resolveu deixar de esperar. Espera um pouquinho!, ela pensou, e pluft, estava plantada a sementinha, como acontece com todas as sementinhas, passa alguém e pluft. A dela não foi um passarinho verde que plantou, ela bem que tentou com ele, mas sabia que não era desse jeito que ia conseguir. Não foi uma cegonha toda "paba", que ela ouve dizer por aí e nunca entendeu realmente nem se era mesmo "paba" a palavra. Não foi uma mosquinha zunidora de ouvido. Não foi o morcego Léo comedor de goiaba, porque Léo só a ensinara a comer goiaba, nada de sementinhas. Não foi um grande passarinho de lata. Não foi a papagaia da tia. Não foi o beija-flor Marianinha. Nem passarinho foi. Talvez foi o grilo falante, mas pensando bem, eu não lembro de ter lido uma só vez o grilo falante plantar alguma coisa. Quem plantou mesmo foi o Pinóquio. Ele disse, Espere um pouquinho!, e fez, como acontece com todas as nossas sementinhas, pluft, plantou a sua. E como eu dizia, foi isso o que aconteceu com a menina que esperava. Cansou de esperar. Mas ela ainda não fez nada, porque a sementinha só foi plantada. Ela ainda vai umedecer, algo dentro dela vai forçar até romper a crosta, e vai sair devagarinho, todo torcidinho, sem cor, fraco, sem rumo. E enquanto ela espera não precisar esperar mais, ela pensa se é mesmo precipitação não esperar até lá. No fundo ela acha que não, só não vê outra saída. Ela só sabe que já não quer mais.

segunda-feira, agosto 25, 2003

e já estava quase dizendo que a vida não se encaixa. mudei de idéia.

domingo, agosto 24, 2003

e isso é muito engraçado porque, quando aquele senhor careca e barrigudo, que se encostou no corrimão perto de onde a banda tocava, me olhou, foi no que eu pensei depois de lançar-lhe um olhar severo e mudo. Que esse meu olhar para ele ia se perder no meio da minha vida, que ia ser perder no meio da duração da espécie, que vai passar pelo mundo um dia, que não é mais que um bloco de terra e água que já já vai explodir no universo e fim. É isso que me justifica muitas vezes quando eu quero alguma coisa que parece louca e é isso que me traz quando quero deixar pra depois alguma outra. E olho para eles no palco e posso até prever cadáveres e ruínas. E por uns instantes isso importa muito. Loucura? Pode ser. Deve ser. E piora quando tento encontrar então um porquê de estarmos aqui, agora, eles tocando, eu ouvindo, alguns bebendo, outros beijando, outros contando causos no banheiro. E isso importa? Claro que não. E nem tem como eu falar nisso sem ser repetitiva ou cacofônica. Mas eles estão lá tocando, posso ouvir o sopro, a batida da baqueta no bumbo, e quando tudo começa a ficar com cara de vão, de à tôa, eu penso que vai ver que é bom porque é assim. E ainda assim não esqueço que o olhar severo que eu dei para o senhor do corrimão vai ser diluído todo no meio do tempo e fim.

quarta-feira, agosto 20, 2003

Jabuticabeira pequenina, quem te despequeninajabuticabeirarizarás?
Eu me despequeninajabuticabeirarizarei ao se despequeninajabuticabeirarizarem todas as pequeninas jabuticabeiras ainda não despequeninajabuticabeirarizadas.

Eras... isso é que é vontade de não crescer.

terça-feira, agosto 19, 2003

Dessa vez a vida não estacionou. Ao contrário. Não estou mais aborrecida com o mundo. Até me estranhei. Nem querendo que o tempo passe tão logo. Tem muita vida ainda até a volta. E está bom assim.

domingo, agosto 17, 2003

Eu acho que estou ficando louca. Sério, não devo estar bem. Não pode ser normal querer porque querer ser outra pessoa, estar em outro lugar, fazer outras coisas. E mais anormal ainda saber quem gostaria de ser, onde gostaria de estar e o que gostaria de estar fazendo. Essa semana vou procurar ajuda. Esta loucura é boa demais, estou entrando nela quase sem volta. Só de cabeça, porque de atitude seria impossível. Sensação louca, estranha, de que isso parece resolver a vida inteira. Só pode ser loucura. Diabo de idéia fixa que não sai da cabeça. Já sei até a hora em que entra o locutor, o tempo, a altura da voz. Estou louca.
Até parece que o que dizemos é o que é, até parece que eu sei o que há, até parece que eu não sei. Até parece que não sinto nada, até parece que não me sinto nada, até parece que não sinto. Até parece que pareço o que sou, até parece que não apareço porque sou, até parece que não é nada. Até parece que vai passar com a lua, até parece que não é com ela, ou com ele, até parece que vai passar. Até parece que tenho o tamanho que eu gostaria de ter, não o tamanho da régua, o de dentro, aquele que chamam de alma. Até parece que há alma, bolas. Até parece, mas não parece olhando bem, que alguém sabe o que é realidade, ou que viria a ser isso um dia, caso existisse. Até parece que já não tenho mais aperto no peito, vontade de gritar, de me estender no chão debaixo da chuva, de fechar os olhos e imaginar tendo certeza que estou em outro lugar. Até parece que eu queria ser eu mesma. Até parece que eu pareço comigo mesma. Até parece que se pode ser você mesmo com todas aquelas vozes te rondando e ocupando os seus espaços. Até parece que entendem quando você diz porque até parece que você diz o que queria dizer. E até parece que se você conseguisse dizer passariam a entender. Até parece que os motivos são externos. Até parece que eu preciso de até pareces agora. Eu preciso é de você. E até parece que você vai saber.

sábado, agosto 16, 2003

Mas ainda tem alfinetes em todos os cantos da casa.
Melhor hoje.

quinta-feira, agosto 14, 2003

Um preto, uma preta, uma pretinha, uma negona e um brigadeirinho.

quinta-feira, agosto 07, 2003

Janela, janela

Na sala lilás, entre janelas,
gelada, em pêlo, Chica sabe;
olho por olho, dente por dente,
para cada janela aberta
- gesto largo, arco e flecha -
dentro dela, no ato, outra janela se fecha.
interna, externa, não há saída nem brechas:
lado a lado, janela, janela.
Entre elas, enjoada, Chica divaga,
alheia, mergulhada na areia
de realidades reais, irreais, sobrenaturais.
Como se, sem navegar, navegasse
entre olhos, abrolhos e outras ondas,
rente às sonoras sobras de um só sonho.
- Que som risonho! - reconhece.
Janela, janela, dentro delas
sobem e descem infinitos anéis
dispostos em círculos, em espirais,
à frente, atrás, muito acima de tudo o mais.
Nos anéis, mil vagalhões,
mil vagas visões cênicas, oceânicas,
jogando Chica ora para fora,
ora para dentro da cova dos próprios leões.
Caindo com a manhã, há nos anéis
não o azul-marinho, velho, de Ticiano,
mas o mar vermelho, vinho de Tintoretto,
o luar caiado, tinto, do Omar Khayyam.
Ainda nos anéis, cenas banais, musicais,
Stálin, Mao, a quintessência dos cães,
do cosmos, do caos.
Na sala lilás, entre janelas,
gelada, em pêlo, Chica arde:
não há oceano, sequer cais -
dentro de uma sombra infinita, amarela,
numa janela outra janela, nada mais.
Sob a velada luz da cidade,
que é que tudo seduz, que é que a tudo invade?
Tarde após tarde, entre janelas,
somente Chica sonha, somente chica sabe.

Antes bem sozinha que só mal acompanhada.

E hoje eu vou pra Maracangalha, à Espanha, -me a China, ou às seis na sala 2 do Dragão. E passar bem.

O referido é verdade dou fé.

Eu nunca soube o que fazer, principalmente quando queria fazer alguma coisa. Hoje não é diferente. Aliás, está mais elaborado, mais complexo, hoje eu não sei melhor. Vontade de duzentas e cinquenta e dois milhões e vinte e dez coisas, que não sei como conseguir, como explicar que quero. Se eu digo eu não tenho, se eu não digo, magoa. Se peço, negam, se faço na cara dura mesmo, acham que fico fazendo as coisas sem avisar, e ainda têm a coragem de dizer que caso tivesse avisado, teria sido ajudada. Cansada de ouvir, meu bem, apoio você em tudo oque voce quiser fazer da sua vida, qualquer que seja o caminho que voce queira traçar, estou aqui e assino embaixo, desde que seja esse determinado caminho que é o único que eu vejo para você. Desapontada de ouvir que o meu avião deveria voar mais baixo. E de não entender porque se não vão ajudar se melindram tanto quando resolvo fazer de jeito que acho de fazer.