quinta-feira, dezembro 29, 2005

Eu só consigo ver importância nos assuntos de amor

Eu quase me convenci, ficou por pouco, bem pouco, diversas vezes, de que o mundo é isso mesmo, mas eu nego, me nego que ele seja, que se for pra ser assim pode até nem ser, e tenho dito e pronto. O mundo que for o meu tem que ser lindo ainda.

preciso não dormir
até se consumar o tempo da gente
preciso conduzir um tempo de te amar
te amando devagar e urgentemente
pretendo descobrir no último momento
um tempo que refaz o que desfez
que recolhe todo o sentimento
e bota no corpo uma outra vez
Prometo te querer até o amor cair doente.
prefiro então partir
a tempo de poder a gente se desvencilhar da gente

depois de te perder te encontro com certeza
talvez num tempo da delicadeza
onde não diremos nada, nada aconteceu
apenas seguirei como encantado
ao lado teu


e nos de rosas, sóis amarelos, cachorro, criança e bola.

quarta-feira, dezembro 28, 2005

arrasa o meu projeto de vida, querida. estrela do meu caminho, espinho cravado em minha garganta. a santa às vezes troca meu nome e some. e some nas altas da madrugada. coitada, trabalha de plantonista. artista, é doida pela portela, ói ela, vestida de verde e rosa, a rosa. a rosa garante que é sempre minha. quietinha saiu pra comprar um cigarro. que sorte, voltou toda sorridente. demente, inventa cada carícia. egípcia, me enconta e me vira a cara. odara, gravou meu nome na blusa. me acusa, me acusa, revista os bolsos da calça. a falsa, limpou a minha carteira. maneira, pagou a nossa despesa. beleza. na hora do bom se queixa, me deixa a gueixa. que coisa mais amorosa, a rosa. a rosa, o meu projeto de vida. bandida, cadê minha estrela guia? vadia, me esquece na noite escura, mas jura, me jura que um dia volta pra casa.

terça-feira, dezembro 27, 2005

Desalento

ele me faz companhia hoje, amarelo, cuicado, indevido, chinfrim, "Corre e diz a ela que eu entrego os pontos", remexendo nas coisas adormecidas.

domingo, dezembro 25, 2005

Quais coisas valem?

quarta-feira, dezembro 21, 2005

As fortalezas me atacam

hoje é um dia reflexivo: de que as coisas valem?
É possível dessaber?
Uma estrada em linha reta só tem duas direções?
O tempo é uma estrada em linha reta?
As palpitações têm nome?
Prática e teoria realmente se completam?
Onde estão as fadas?
Eu sou a mesma pessoa que vi na foto, com três meses de idade tomando banho de mar nos braços de meu pai?
Onde perdi a doidice?

quarta-feira, dezembro 14, 2005

meu dia 23. dia 23 de dezembro é o único dia 23 do ano que não é do são jorge. esse é somente meu. ele tá chegando de novo, alado, como se perdesse tempo em não vir. pode não vir, dia, pode se esquecer esse ano de chegar, quase junto do trenó do papai noel. aproveite e me explique como é que já faz um ano desde a última visita, estranha, pensa e meio triste. você, que faz parte do mês mais chato do ano podia muito bem me convencer que esse pode ser bom, que o mês é o mais colorido, que as renas existem, que papai noel esse ano vai me desviar um presente. ou, simplesmente, que tá chegando o carnaval, Mirella, deixa eu passar.

quarta-feira, dezembro 07, 2005

pensar que isso sou eu. e o morto que há em mim. o roto. o decomposto. alguém lá dentro me diz que estou sendo injusto. que há mortos muito mais putrefatos, a cara expelindo ranço e desgosto, que aquele, o Oscar, o Fingall, o O'Flahertie Wills, aquele, o Wilde, quando morreu, tudo estourou dentro dele, que o estômago explode, é o que dizem quando se está na pira, na Índia talvez, e ouve-se uma explosão a muitos passos dali. eu e minha "intensa fisiose", como dizem os médicos, o que você come, hen, um saco de ventos? engoliste, Vittorio, o fole de pele de boi onde Éolo guardava os ventos? palavras é o que guardo no meu fole.

segunda-feira, dezembro 05, 2005

eu devo simplesmente ser um pessoa sempre um pouco infeliz.
"Mimi era bonita mas não tinha coração"

quinta-feira, dezembro 01, 2005

Divinare, o Condão de Adivinhar (ou Das Palpitações)

As descrições dos dramas biológicos me comovem. Como tentar fazer ver uma palpitação, por exemplo. Dar-lhe textura, cor, ritmo, sobrenome, beck-ground e preço. Motivo não, que é uma desnecessidade. A palpitação não tem motivo, ela tem o ofício de existir seja lá o que aconteça - em mim, pelo menos -, porque precede o raciocínio e o entendimento. Confio mais nas palpitações porque o inconsciente está sempre certo. E porque a razão confia no tempo, que é, inegavelmente, um trambiqueiro safado desmerecedor de qualquer crédito. As palpitações, ao contrário da consciência, que elabora um impacial - e quase necessariamente falho - texto explicativo, nos demonstra o mundo por imagens nem sempre visuais, mas ainda imagens. As mais reais que podemos ter.

E me entrego ao torpor das palavras, o mundo ideal onde tudo posso, onde tudo tenho, onde tudo sou, como um amante dedicado que vivesse ao meu dispor.