sábado, outubro 29, 2005

quem dorme, janta.


quem dorme, esquece.

quem dorme, sonha.

quem dorme, cala.

quem dorme, protela.

quem dorme passa o sono.

quem dorme passa o tempo.

quem dorme, nem se abala.

quem dorme, é porque amarela.


eu tenho é muita insônia.

quinta-feira, outubro 27, 2005

Tristeza e alegria e solução e problema vêm sempre irremediavelmente juntos e com a mesma grandeza.

quarta-feira, outubro 26, 2005

a eloqüência é um dom.

sexta-feira, outubro 21, 2005

Eu vou mudar o mundo

mas aqui é meu lugar.

e um moinho na barriga revirando tudo.




na desesperança meu umbigo fala sozinho.

quinta-feira, outubro 20, 2005

E na mesma Esquina

Chegou de repente o fim da viagem, agora já não dá mais pra voltar atrás.

eu sou uma pessoa de fácil fechamento. como também de fácil intransigência e fácil cegueira. daquelas amantes da solidão. eu sou uma pessoa que acha fácil qualquer desvinculação, inaudição ou consequência. eu sou a pessoa do então vá, do pois me deixe, do você que sabe, do é assim e pronto ou ainda eu vou de qualquer forma e não tem mais jeito. parece que não mas no meu jardim já pisou muita gente ruim, eu já sambei pisando em muito calo, eu já pus minha casa nas costas feito um caramujo casmurro e rabugento. e tem dia que o sol não aparece mesmo, que o clima é quente e úmido, desmantelado, que os meus dentes não se mostram e eu me torno a pessoa de mais difícil tolerância. isso acontece quase sempre (para tentar uma frase mais branda) quando eu perco a esperança.

terça-feira, outubro 18, 2005

Um Gosto de Sol

Se eu soubesse tocar meu violão, que mora ali, solitário, enncostado na minha estante, hoje escolheria uma melodia melancólica, triste.

Pegaria de leve, sem arrasto, sentaria na esquina da minha cama, em cima da colcha branca de flores coloridas, me debruçaria sobre ele, se eu tivesse intimidade com as notas, se eu tivesse autonomia para descobrí-las, desenterrá-las, eu comporia um pequeno verso, meio verde, solitário, enevoado. "Alguém sorriu de passagem em uma cidade estrangeira", uma frase musical como esta, que a literária me permite escrever.

Lenta, repetitiva, invisível. Eu, sem tempo, estenderia meu corpo, meus braços, meus dedos, às cordas, à madeira, ao oco, e seríamos eu e ele uma coisa só. O som que eu iria fazer seria uma despretensiosa respiração. Tão existência quanto a minha, que só se pode sentir quando acontece. Fim da respiração, fim da música, fim das existências. Tudo uma mesma coisa.

E nem haveria mais imagem, pois eu estaria de olhos fechados e música não é ficção, fala diretamente com o que não tem nome. Apenas a sensação do vento na pele, da luz atravessando as pálpebras cerradas, e uma espécie de matéria do som que pensamos, ou quase podemos pensar, poder, ou quase poder, pegar com as mãos. Eu diluída em mim mesma.

O que iria existir não estaria lá. O som se constituiria feito teia, de linhas e buracos e preenchimentos e vazios, e seriam várias teias, não necessariamente sistematizadas, se interpondo, sobrepondo e intrelaçando, e teriam todas as cores e texturas possíveis e seriam dia e seriam noite, quente e frias, brandas e bravas, doces e ríspidas, vivas e moribundas, latentes e pulsantes, de sombra e de plenitude, de compasso e descompasso, ou de mesmo nada disso. E eu poderia talvez tornar perceptível o que acontece, surge e desaparece, fugidio, entre o mundo e a minha alma.

Lá da Lua, pra Ela.

quinta-feira, outubro 06, 2005

(Toda palavra é crueldade.)

segunda-feira, outubro 03, 2005

Árvore Genealógica

Deus engendrou um ovo, o ovo engendrou a espada, a espada engendrou Davi, Davi engendrou a púrpura, a púrpura engendrou o duque, o duque engendrou o marquês, o marquês engendrou o conde, que sou eu.