sábado, maio 31, 2008

Mas é porque com ela é assim: ou oito ou oitenta. A não ser que seja ou 0,0008 ou 80.000. Por aí.

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E a dor mais estranha é a de ver o outro lado da escolha: aquela parte que nunca vai ser nossa e que foi dada por nós, em algum momento, de bandeja para o outro. Deve ser alguma estratégia de Deus para nos ensinar solidariedade.

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Renúncia é como ter alfinetes gelados pelo corpo.

quinta-feira, maio 29, 2008

- Olha: o mundo.

Então fez aquele gesto, como quem mostrava uma banalidade, um livro, um caixote, uma camiseta, displicente e poderoso. Era esta a sua habitual complexidade simples.

- O céu, o mar, tudo é azul. E meu amor por você.

No exato momento em que passou uma moto, um ônibus, um navio, um foguete, o Halley, e então não pude ouvir.

quarta-feira, maio 28, 2008

- Para efeitos de Marquês de Pombal eu me chamo Roberto Jorge.
- Um nome bonito, Senhorita.
- Muito bonito.


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A gente já pôs na agenda até um show do Franz.


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Tem coisas que deixam a gente meio assim assim sem entender. Destino, sorte, vontade, e todas essas coisas que fogem ao nosso controle, têm esse poder. Sei bem porque não. É só uma intuição.


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Eu queria a certeza de que daqui a 20 anos ainda riríamos com a mesma leveza.

terça-feira, maio 27, 2008

Daquele ano pra cá - e já vai fazer um ano - as coisas mudaram. A comemoração deixou de ser algo apenas bom e passou a assumir condição ritualística. Graça e prece. O fogão virou brinquedo e o fogo um amigo dedicado. Os pratos quase teóricos da verdade: justos, bons e belos, em igual medida de intenção e resultado. Lindos e ligeiros como uma francesa nas ruas de Paris. E tem-se ampliado a largos passos as técnicas de fotografar os alimentos do dia. Última parte antes do encerramento do rito.

Os pesos vêm sem culpa, chegam e se instalam, como sultões em orgias gastronômicas; vêm por prazer e felicidade, embora seja negociada sua permanência nos dias futuros. Em breve serão apresentados a uma avenida sinuosa e arborizada, e espera-se que gostem mais de lá que da casa nova.

Neste ano há também casa nova. E ela tem 3 quartos com armários, sendo uma suíte com varanda, banho social, duas salas, cozinha com armários, área de serviço e dependência completa de empregada - que vai virar gabinete de estudos com banheiro, porque o nome parece muito ingrato. Nesta casa morarão três pessoas que irão se aprender e ficar amigas. E isso se sabe como já se sabia a casa antes mesmo da possibilidade dela. E será um absurdo de filmes, música e livros bons.

Este ano inaugurou um coração cansado e comedido, mas cheio de esperança e boa vontade. Um coração apaixonado por literatura e liberdade, mais feliz que o que lembrava ter sido alguma outra vez. Reluzente e vitorioso, pronto para quase tudo, e já sabendo - e tem isso como uma enorme vantagem - que coração é inauguração sempre. Acontece de ser, no máximo início e meio. Coração nunca (se) encerra.

E este ano talvez de tudo o que há para se aprender, se aprenda do silêncio o que há de necessário. Talvez ainda se contemple, se peça, se tente, se mude, se assuste, se mova, se disbarate, se aflija, se ame, se morra, se justifique. Talvez a graça se perca nas montanhas ou se mude no verão. Talvez Penélope termine a colcha antes que Ulisses retorne, e já cansada, monte ela mesma a cavalo e reescreva uma nova história surpreendente. Talvez os que existem e não têm consciência continuem assim, mas os que têm apenas consciência passem a existir plenamente e joguem xadrez não mais consigo mesmos, fritem ovo e escutem uma balada no chuveiro para desanuviar um dia tenso. Talvez o medo se dissipe como o suor de um rosto exposto ao ventilador.
você me mete medo.

segunda-feira, maio 26, 2008

das frases a mais bonita, porque tanto de dentro quanto de fora, tanto de si quando do outro, tanto de ciência como de subjetividade.

Os homens que estão encurralados no recinto deste país perderam o olhar para o contorno da pessoa humana. Todo aquele que é livre aparece-lhes como um extravagante.

quarta-feira, maio 21, 2008

fragmento heraclitiano

a única forma de repouso é a mudança.


adendo
a liberdade é mesmo um passarinho. por mais clichê que possa soar.


conlusão
ele tem razão, vivemos pouquíssimo tempo para cumprir tantos anos em busca de liberdade. mas dói deixar isso de lado.
de alguma forma a idéia da noite incerta é extremamente reconfortante.
a liberdade talvez toque o vazio, a ausência de valor, de compromisso. talvez seja comadre da autonomia, da autosuficiência, do poder e jogue no time da razão e da inteligência.
dito desta forma, ser livre implica ser também um tanto egoísta e cruel, e acredito que seja assim mesmo.



tu não faz como um passarinho que fez o ninho e abandonou.

sexta-feira, maio 16, 2008

Llena.

sábado, maio 10, 2008

das piadas internas, o gênio (ou, é claro que a besteira é a base da sabedoria):

Eu vivia triste, encrisiado
Moribundo, empanzinado
Cheio de peitica, era um cara lascado
Vivia destiorado

Mas não era pra menos, eu só comia
Folha de pau, raiz e vagem
Mel de abelha e gergelim
Arroz integral
Bife de soja, pepaconha
Chá de boldo e própolis

Mas eu mudei minha alimentação
Graças ao Mané Bofão
E passei a comer seguindo a sua orientação

Panelada, buchada
Sarrabulho, tripa de porco
Fuçura, lingüiça, rabada miúdo
Bife, passarinha, mocotó, carne de lata
Chouriço, tutano, sarapatel
Mão de vaca

Hoje eu estou mudado
Bonito, lindo e joiado
Alegre, gordo e corado
Pareço um artista.

segunda-feira, maio 05, 2008

é que alegria é de graça.

sábado, maio 03, 2008

e o que fazer quando as mãos ficam mudas? não sei, tem alguma idéia? não. na verdade, sim, mas as mãos estão mudas. escuta, você deveria se acalmar. descansa as mãos aqui no meu colo, sente meu pulso, ele vibra. e quando ela pousa a mão, ele sente a aspereza e o frio que ela tentava definir como mudez, surdez, paralisia. o que houve com você? não sei, eu tentava diálogos imaginários onde ninguém falasse, eu tentava falas sem que houvesse ninguém para dizê-las, eu pensava nas palavras por si mesmas, soltas no mundo, proferidas, e pessoas que existiam demais para dizer, que fossem sempre palavras de menos. eu tentava uma luva branca e fina, uma película sobre as mãos, de um perfume licoroso e às vezes exalava algo de amêndoas. eu passava as mãos nos cabelos lisos dela e podia sentir os olhos grandes amarelados pelo macio do cabelo, pelo fluxo contínuo de meus dedos em cera quentes, grudados nas gostas fartas; mas hoje é como se as palmas avistassem asas de concreto, bronze, metal denso e vazio, mas tão bonito quanto ela, mesmo sem o movimento dos olhos em mim quando me sentia em seus cabelos. e ele não gostava quando ela falava em tons de mel, porque era feito agulhas vazando gota a gota seu pulso firme, e forte. pulso de atleta, você tem, de remador, com todo esse azul fazendo rios, mapas de rios, gostaria de navegar por eles. então venha. e não precisa dizer mais nada.