sexta-feira, fevereiro 24, 2006

não adianta

eu queria estar em olinda.

e em recife.

e em olinda.

e em recife,

e em olinda.

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

é uma coisa que só entende quem vive em lugar em que não chove. essa fúria de libertação da água, cheia de gozo em estar-se derramando. que extasia a si e o outro, sem nostalgia, mas uma preguiça morna, um distender de braço fatigado do movimento. de bomba, de sucção, de galope, de cortar cana. na porta do sono, uma gota escorrendo suor e lágrima, um hálito vaporoso respirando em minha boca.

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

E eu vi, pelo menos mais uma vez, os olhos de Gabriela. Era dia e eu deixava a palavra viver em mim. E se eu soubesse fazer poemas, desmancharia em frases.

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

eu estou nublada.

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

eu quero mais literatura. eu quero mais literatura.

terça-feira, fevereiro 14, 2006

mais uma daquela menina

a menina procurava um imagem. uma branca, sabe lá e dá de ombros. porque alguém disse da possibilidade de não existir o estereótipo. e ala ficou assim procurando uma imagem no mundo, menos comprada, mais inventada.e porque o francês lá confundui a cabeça dela, obrigou, e ela foi, entrou na dele. ela, que nem se sabia logicista, teve que concordar com a outra dele: o ser histórico delas guerreavam. com o monstro? com a delicadeza de uma anarquia bem dita.

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

e como era ver o fim da história, eu, que no começo, tinha sido projeto, aspiração, espera? Eu, que fui parte dos planos, dos desejos, da equipe, de como foi quando o outro precisava se curar, em que não se fazia o que queria, mas o que precisava ser feito. Do colchão no chão antes de vir a cama, da mesa da cozinha que guardava os pratos, da porta de alumínio que ainda divisava a varanda, dos oito anos e dos cabelos grandes dela. E dele, no chão arrodeado por vinis, sempre bons os daquela época, ele ainda nem usava óculos. Eu era para ele sempre a primeira sílaba de meu nome, eu que tinha sido muito esperada, e que sei as inúmeras histórias que ela, ainda recorda e conta. O convite da formatura ainda estava em branco, porque eu pensava que seria apenas um para os dois, e que só precisaria entregar no dia que fosse embora. Deixava de ser surpresa para se tornar pendência, aquele pedaço de papel fotografado e caro, cheio de custo e de ranso. Penso tudo isso, agora.

e como era isso, do fim das coisas? Vai desapartar para ver como é que fica, foi o que ele disse. E como é que fica? As coisas não andam ficando assim sem rumo, não andam se fazendo sem querência nenhuma. As coisas são feitas. Eu teria lhe dito se tivesse conseguido algum pensamento na hora do comunicado. Eu teria lhe dito que ele tem que saber. que lhe é um dever, saber. Eu teria dito muitas coisas.

e como fica a espera? Eu deveria ter lhes dito muito antes que não há necessidade de razão confirmada, de competição acirrada, de trejeito, de novela. Mas que havia de muito mais sossego, dança, piada, tearo, relevo, flor. Dizer-lhes que eu nem sei se deveria, mas que sei o meu lugar na história, e não é o de determinar, e sim o de acolher indistintamente. E dizer que flor não é a planta - mas acho que aí já é bem mais difícil - que flor é uma coisa que cresce no meio do asfalto, torta e feia, mas que ainda assim é uma flor. É que esse negócio de dizer é mesmo difícil demais.

e para onde vai o amor quando o amor acaba? Isso serve muito para a filosofia. Para onde? Que nem o passo que acabou de ser dado, onde se esconde? E lembro que às vezes consigo prever muitas das coisas, e que isso é prazer e inferno, isso de prever coisas. Nos tornamos subordinados a nós mesmos, sujeitos a uma coisa que é descontrole em nós. E hoje tenho janelas e pontes, arcos e nuvens, água, céu e velocidade, e hoje, é isso tudo mas muito dentro e quieto. O amor não vai para lugar nenhum.

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Jakobson mostrou que um idioma se define menos pelo que ele permite dizer, do que por aquilo que ele obriga a dizer. Em nossa língua francesa (e esses são exemplos grosseiros), vejo-me adstrito a colocar-me primeiramente como sujeito, antes de enunciar a ação que, desde então será apenas meu atributo: o que faço não é mais que a conseqüência do que sou; da mesma maneira, sou obrigado a escolher sempre entre o masculino e o feminino, o neutro e o complexo me são proibidos; do mesmo modo, ainda, sou obrigado a marcar minha relação com o outro recorrendo quer ao tu, quer ao vous: o suspense afetivo ou social me é recusado. Assim, por sua própria extrutura, a língua implica uma relação fatal de alienação. Falar, e com maior razão, discorrer, não é comunicar, como se repete com demasiada frequencia, é sujeitar: toda língua é uma reição generalizada.