sábado, novembro 27, 2004

Como ficou o seu curso para a entrada no banco?
- Não passei.
- Poxa. Mas não está a trabalhar agora?
- Estou a ver umas aulas, mas ainda não saíram. Talvez só para o semestre que vem, que começa em fevereiro.
- Poxa... deve estar a ser difícil para ti. Mas fevereiro deve estar aí á porta.
- Está e não está. Necessidade não passo, mas é ruim a sensação de não está produzindo como gostaria.
- É... dificil entrar no mundo adulto. Mas vais ver que tudo se resolve.
- Você já me disse isso um montão de vezes. Eu concordo. Verei sim. Hei de ver. E você? Como vão os existencialismos?
- Eu?
- Uhum!
- Nem sei. Porcaria de sensação de vazio. De falta de interesse.
- Eu me preocupo com você, sabia. A gente não se conhece como se deveria conhecer alguém, não convive como deveriam ser as convivências, mas eu me importo com você e me entristeço quando você fala assim porque eu me sinto completamente impotente em poder te ajudar.
- Sempre senti que tu és um coraçãozinho de ouro, mais do que ninguém. Tu sempre és um tronco onde me seguro e encosto minha cabeça.
- Mesmo daqui?
- Sim. Sempre te senti a meu lado. Aliás... deves ser a única pessoa deste mundo a quem eu mais me exponho. És a minha amiguinha especial.
- As pessoas têm medo de se expor. Incrível. Não sei pra onde levarão tanta necessidade de invulnerabilidade.
- Para a necessidade de suportar uma personalidade
- Mas sabe, a gente só pode se gastar enquanto vive. Não tem que ter medo disso. É um pensamento adolescente que a gente deveria levar por toda a vida.
- Pois... e onde se encontra o pária para a exposição? Em alguém conhecido? Não acredito.
- E seria a quem? Porque não a um conhecido? Eu acho que as pessoas andam cheias de armaduras. E aí mais que aqui.
- É uma tendência mundial.
- Imbecilidade. Quem faz a tendência somos nós. Não existe isso. O mundo só tende a rotação e translação. As pessoas é que escolhem andar com cofres no meio dos peitos...
- ... com medo de não serem abusadas ao expor as emoções. Pois.. Mas e quem espalha a mensagem, os dogmas? Os credos ou os mídea?
- Não sei. Mas sei que nós podemos não nos ater a esses dogmas, mesmo não sabendo de onde eles vêm. Todos querem a mesma coisa. Todo mundo sente a mesma necessidade de alguém. Ou de todos. Alguém tem que começar com isso. Eu acho muito estranho o mundo sair se fechando porque o mundo é fechado. Mas enfim... falemos de levezas, que, pelo visto, eu sou uma criança que ainda não entendeu o funcionamento dessa máquina.
- É... e como achar a chave destes peitos? E como levantar os véus dos cérebros?
- Isso é um segredo que eu te digo: eles não têm chave, só que ninguém sabe disso.
- É?
- É. Porque ninguém nunca tentou abrir por achar que está trancado e não se tem a chave exata. Mas pfff.. tá abertinho! A portinhola tá só encostada.
- É necessário mais um Adnam Kadnom e uma Eva Anasthasia
- Quem são?
- Novo Adão e Eva que portam um facho, que em lugar de dar luz, recebe emoções e concentram todos no peito.
- Não sei do que você está falando mesmo... Isso existe, é uma metáfora, ou uma idéia sua?
- É do imaginário templário de origem escocesa.
- Hum.. Conheço não.. mas pelo que vejo, qualquer um de nós pode ser um desses dois. É só querer e não ter medo.
- É. Falta a minha Eva.
- Seja o Adão. Em o ser, a Eva aparecerá. Creia. As pessoas se juntam por afinidades. Quanto melhor você for, melhores pessoas chegarão a você.
- Não há nem embrião desta bonita flor. Por muito que se tente plantar.
- Como assim? Claro que tem. O que é isso? Que indisposição é essa?
- Já reparou? Talvez tu sejas a melhor amiga que tenho.
- Eu não sei. Não sei como são as suas amigas. Talvez seja apenas a mais teimosa. Mas é isso que eu digo. Não se feche. Comece com as pequenas coisas. Seja sincero com as pessoas, mesmo que doa um pouco. Exija isso de volta. E arque com as conseqüências disso. O mundo fica muito mais bonito e leve.
- Adoro-te.
- Eu também te adoro.



E a conversa desses dois (des)conhecidos da internet poderia ter esbarrado nas amenidades do dia-a-dia, do vento, do verão, do que foi feito no fim de semana. Mas não ficou porque alguém ainda acredita em alguma coisa e tem alguém disposto a passar a acreditar. Sem medo de parecer ridículo, piegas ou auto-ajuda demais, esta pessoa tenta dizer ao outro que ainda existe possibilidade para o mundo, nem que seja para o mundo que nos cerca - sim, o mundo grande é mesmo feito de pequenos mundos, mudar esse pequeno mundo já é uma revolução. E ainda que não se consiga todas as vezes, ainda que precise que alguém acredite por si em algum momento, essa pessoa continuará tentando, porque só sabe se for assim. Não é fardo, não é status de cânone, não é nada. É apenas vontade de se saber aliviar um coração e receber em resposta um eu te adoro. E não tem mesmo - para os que buscam ardentemente - qualquer outro sentido essa nossa existência vã.

quinta-feira, novembro 25, 2004

Não é mentira, não é falsa modéstia, não é marmota, não é frescura. Eu tenho mesmo vergonha de receber elogio. Quase involuntário, até, este comportamente infantil.

Algumas coisas começam a dar certo. Só preciso saber como conduzi-las, agora.

E às vezes fico pensando: é bom porque eu quero ou eu quero porque é bom?
(Dane-se. É bom.)

sábado, novembro 20, 2004

Somente teu nome é meu inimigo. Tu és tu mesmo, sejas ou não um Montecchio. Que é um Montecchio? Não é nem mão, nem pé, nem braço, nem rosto, nem parte alguma pertencente a um homem. Oh! sê outro nome! Que há em um nome? O que chamamos de rosa, com outro nome, exalaria o mesmo perfume tão agradável; e assim, Romeu, se não se chamasse Romeu, conservaria essa cara perfeição que possui sem o título. Romeu, despoja-te de teu nome e, em troca de teu nome, que não faz parte de ti, toma-me por inteira.

Eu gosto desta intensidade. Porque toda - e tudo o que é - vida tem um prenúncio de morte. O que teria acontecido se Julieta não faz essas reflexões tão livres? O que acontece com o movimento que não foi feito? O que esperamos quando esperamos o óbvio, o cômodo, o fácil? É um tempo, um lapso, um instante, e que só faz sentido enquanto vivos e conscientes das memórias e dos sonhos. Isso que a gente nomeou de viver não é uma espera latente do envelhecimento do organismo. É um coisa grande, e só porque a gente quer, por mais nada, mas tem que ser, grande. E ela não tem tempo para o não saber.

Chama-me somente "amor" e serei de novo batizado. Daqui para diante, jamais serei Romeu.

sexta-feira, novembro 19, 2004

Uma pilha de nervos. Injuriada. Sei não, sei não, sei não. Como pode haver tanto desconforto em uma casa? Ou será em mim? Enjoada desta velha conhecida crise que não passa nunca.

quinta-feira, novembro 18, 2004

Fazer vestibular de novo tem me lembrado de como eu gostava de biologia. Zoologia, mais precisamente. Animais invertebrados: Filos Porífera, Coelenterata, Platyhelmintos, Aschelmintos, Annelida, Arthropoda, Mollusca, Echinodermata. Os cordados: peixes e tetrápodas. Que eu tinha pensado seriamente em fazer Ciências Biológicas até descobrir que era mais química que a vida e mais laboratório que mundo. E agora, olhando para isso tudo novamente, percebo, com um certo alívio, que o que eu gosto mesmo é dos nomes dessas coisinhas e do mistério que elas me representam.

segunda-feira, novembro 15, 2004

Pois vem.
É um negócio de uma felicidade meio triste que sei, só aparece quando aqui tem coisa. Teu samba-enredo passando na minha sapucaí.

quinta-feira, novembro 11, 2004

Sambão troando no peito.

quarta-feira, novembro 03, 2004

Ia falar sobre heróis. Príncipes encantados. Sobre os salvamentos que desencadeiam os romances - imaginários - da infância, ou pré-adolescência, que seja. Daqueles que a gente encontra na história da Bela Adormecida, da Branca de Neve, da Rapunzel. Ia falar sobre um filme brega de ação em que o cara perfeito aparece no momento certo em que a mocinha é baleada. E que é lindo, forte, charmoso, seguro, e sabe de tudo, medicina, mecânica, arte investigativa, marcial - porém não diz mistérios, marxismos, rímel, gás. E que ele age exatamente no justo tempo exigido pelo socorro, irrompe os portões da emergência com ela nos braços, já previamente imobilizada, e que tem a delicadeza de que, quando ela acordar, já lhe tenham sido enviado rosas e desejos de melhora, antes da visita, em que ela agradecerá, emocionada, o seu salvador. Ia falar de situações absurdas assim, que os americanos nos impuseram nos sonhos e nos medos. Mas não vou mais não. Os melhores filmes trazem os densos diálogos pausados dos franceses. E também porque um dia a mocinha do sonho americano acorda com a solidão, com a tristeza, com o desabamento deste seu mundo inventado - como se entrasse em órbita novamente. E porque sonhos como estes só se sustentam durante as duas horas da sessão de cinema.