terça-feira, abril 30, 2002

Sinto vontade de comer o teu cheiro, teu cheiro gostoso que canta feito a música que a gente vê quando você toca de levinho no ar que sopra e joga os teus cabelos para a boca e que como num beijo no próprio dedo você o afasta, dando um sorriso desinteressado de tudo isso e continua acarinhando o ar, rodopiando e esvoaçando-se, com um perfume cor de música branca, ou negra, que se ouve ao devorar teu afago no vento; e se afasta, se afasta, como o próprio ar, inconsistente ar que você toca de mãos frias, numa leveza ora irritante ora magnígfica de magnífica beleza, que apenas eu pareço ver, enfeitiçado, sem chance alguma de pensar, em nada, nem mesmo em você, só olhar o teu cheiroso som que bebo a cada minuto para não deixar que esse momento escape de minhas mãos... E que mãos? Nessas horas não tenho mãos, pés... Você me tira todo e qualquer sentido, e o meu sentido, passa a ser te ver, te observar com meu seco paladar, e você cada vez mais me tira a sanidade... Abafo e desabafo cada movimento seu que gira a minha cabeça e mastiga os meus sentidos com apenas um olhar de relance no meio de um movimento nada particular a mim. Uma pirueta sua e para todos, e para quem quiser extasiar-se também, mas parece que apenas eu sofro com o seu desinteresse, somente eu preciso de uma exclusividade sua, mesmo que no meio de uma rua na calçada, em uma praça, numa praia, ao pôr-de-qualquer-sol e desde que continue rodopiando e girando, virando e revirando os meus sentidos mais sóbrios.

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