sábado, maio 25, 2002

Me sentindo só esses dias. Incompleta. É bem verdade sobre a transformação em mim. Está acontecendo. Eu é que me cego e cerro os dentes, enxoto e mando embora dizendo que não quero nada disso. Mas ela não vai. Não pode escolher. Não tem pernas. Surge em um lugar e lá fica até que se aceite a permanência. Depois é que começam as reviravoltas. De tão desejada a não ser desejada chega. Seria lutar demais. Pois não são apenas aquelas transformações. Sinto-as em cada junta, em cada cílio, cada cutícula e remela, em cada gota. Se mexe me expulsando de dentro o eu de tantos anos. O eu covarde e medroso de mudanças que eu tenho. Acomodado e grato a tudo. Reluta em não sair mas a proposta é tentadora demais. Um pé já fora, o outro ainda teima dentro. Não. Não são apenas essas mudanças, definitivamente. São tantas que nem dou conta. Por uns tempos em cima do muro. Depois, quem sabe. Mudança sem previsão de chegar a um ponto no final. Um ponto certo, pensado e planejado. Parece que só existem os processos agora. Só existem as coisas que levam a. O algum lugar "é hipótese". Que nem o que acontece depois que a gente morre.


Se a vida é toda hipótese, por que somente a hipótese da morte é que incomoda? Já deveríamos estar acostumados com a condição hipotética que o mundo tem para nós.


Talvez não seja apenas a hipótese da morte que incomoda.


E agora estou eu, aqui, na minha escrivaninha, no dia 24 de maio, às dez e treze da noite, tentando ler a primeira parte do livro "A Argumentação Sobre a Morte da Arte" do Ferreira Gullar, para poder levar adiante a coisa mais legal que já inventei de fazer na vida (estando em pé de igualdade somente com o sapateado), e esses pensamentos tolos me atormentando o tempo inteiro.

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