domingo, maio 05, 2002

Não, sério, agora não estou processando muito bem as ideias ainda, mas... foi tudo de verdade? Eu estava alcoolizada ou levei um tapa de uma doidinha que eu nunca tinha visto na vida por nada? Quantos anos será que ela tinha? 16? Não sei. Mas com certeza não tinha plano odontológico e estava drogada. Não devia ter também nunca lido um livro na vida sequer e não é mais virgem, mas isso também não importa já que ela não lembra quem foi o de 4 horas atrás. Será que ela sabe ao menos o que são horas? Será se tem alguma outra perspectiva na vida que não a de se lombrar e ficar a tôa nos lugares públicos vendo se enche alguma playboyzinha metida de porrada e com isso ganha mais fama e moral no seu grupinho de iguais lombrados?

Nem entendi direito ainda por quê que eu não me revoltei com tudo aquilo que estava vendo (e vivendo). Só sei que na hora não havia o que criticar, analisar, contestar, discutir, só me pareceu sensato observar o absurdo que era, um monte de gente em idade de produzir, de sonhar, de ter medos e ser amparado por quem já passou pelos mesmos medos, de se descobrir como gente, de crescer intelectualmente, de desenvolver habilidades, de se apaixonar; correndo uns atrás dos outros no que devia ser uma briga de gangue, se batendo, se odiando e pior, violando quem não participava da disputinha deles. A mais básica regra de qualguer ética existente no mundo. E só consigo ver isso como uma consequencia do sintoma, uma resposta ao sistema excluidor que é o nosso, a pontinha mais alta do iceberg. Mostra que estamos cada dia mais falidos enquanto sistema social, enquanto comunidade, enquanto gente.

Depois de instalada a confusão generalizada chegam os seguranças do dragão do mar. Logo depois vem o antibiótico para o antibiótico que ao tratar da inflamação nas juntas causou danos ao coração, ou seja, a polícia. Outro sinal de que o sistema é falido. Não se pode resolver os problemas da sociedade então vamos prender quem os torna evidentes. É a mesma coisa de ter um inflamação no joelho, tomar antibiótico para sarar e depois de descobrir que o tal remédio alterou os batimentos cardíacos, tomar antibiótico para fazer os batimentos voltarem ao normal. Não passa de enganação. Aliás, o fato de se cogitar a idéia de uma polícia é assumir para o mundo que o sistema não vai dar conta de todo mundo e o que desarmonizá-lo deverá ser retirado da sociedade. Essa pessoa é um perigo. Mas agora imagine uma coisa: vamos supor que existam o mesmo número de pobres e miseráveis, sem saúde, educação (no sentido literal e completo da palavra), sem perspectiva de emprego ou reconhecimento profissional, e muitas outras etecéteras que já sabemos de muito tempo existirem. Mas que nenhum se torne ladrão, sequestrador, lider de gangue, traficante de drogas, e permaneçam nos seus subúrbios com seus problemas sociais todos. Suponhamos que eles até tentem fazer protestos (sem nenhum tipo de violência) com faixas e sei lá, da maneira certinha, quem lembraria que eles sequer existiam?

até por que, para essas pessoas, problema social é o rico que tem tudo o que ele queria ter e não pode e ainda passa por ele dizendo "eu tenhoo, você não teem".

Sem querer defender o crime, mas se não fosse ele, as coisas seriam ainda piores. Não para nós que temos a sorte de não nos encaixamos no quadro social descrito, mas para os próprios citados anteriormente. Sua situação seria de mais indiferença ainda. Por parte de todos nós. O mesmo crime que assusta e apavora nos faz refletir.

Bom, apesar de não ser isso o que eu ia falar, gostei de ter "dito", e amanhã eu e o gabriel contamos direitinho pra vocês.

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