terça-feira, junho 11, 2002

bem que o mundo poderia andar um pouco, cansar mais só um dia. ninguém se aquieta dentro de casa. os que não têm casa, só um dia pensassem em não ter mesmo e fossem pra um lugar seguro dentro de si mesmos e saltassem de lá em pé ou dessem pulos um atrás do outro um dia com fim. ninguém. nem o político. nem a dona de nada. o polícia. o comprador de carros caros. o aluno da escola pública. a chica. o gabriel. o josimar que jogou na seleção em 86. o seu raimundinho da venda. o tizeu. a samanta marques. nós. podia ninguém não parar nunca e ficar todo mundo em pé de um lado pro outro toda a vida com fim. fazer isso e mais um monte. todos os barulhos dos carros todas os conversê. nem olhar pro céu. não ver o sol nascer, porque ele desistiu. apagar-se sozinho e ir embora de vez. e gente nem aí, ninguém. nos lugares que não tem sol ninguém nem nota porque ele não existe mesmo lá. o mundo todo nem deveria nada porque ele é mesmo um lixinho fedido, né? e o que fazer com os imprevistos? eles vêm mesmo, fazer o que dá. é o jeito, né não? mais importante é passar a vida inteira de um lado pro outro. o tempo todo. em pé em alguma areia quente ou beira de esgoto, igarapé ou leito de rio morto, praia poluída ou queimadas ou qualquer coisa que a gente possa fazer mesmo que é mesmo é nada com as mãos, porque a janela pra dentro da gente vive fechada. nem olhar pra fora. tentar ver antes de todo mundo. tentar mesmo. e conseguir, porque é o que importa. o ruim é ficar pra trás, fica cinza, preta, a coisa toda, da cor do inferno em brasa e dar um abraço no diabo. cansou de pular de um lado pro outro? deita, pra ver o que é bom pra tosse. fica aí, deitado, bichim, põe os braços no chão também até doer o cotovelo do mal jeito, fique virando na calçada quente, fervendo, só não encoste a cara porque aí você se lasca de vez. abra bem os olhos, arregale mesmo, e veja que o céu é só uma ilusão de olhar, tem nada lá não, nem vida eterna nem nada. saia daí, e pronto, vá procurar o que fazer que é melhor. e pronto. a vida todinha assim. já pensou? e se chover? aí você se molha e gripa. é um azarado mesmo. mas aproveite pra espirrar o máximo perto de quem você não gosta, pra gripar também. e calce o chinelo, senão piora. comece a pensar em tudo. e olhe pra tudo ao seu redor. veja o monte de comida que não é sua, sinta a fome que não é sua também. sem comida, não há outras necessidades. se dê uma vida inteira de pressa, correria, disposição, de apertar a alma, o coração, molhar a mão de alguém com algum tostão e olhar o lucro cair do céu. nada vale a pena, mas não tenho certeza de nada. não sei mais o que importa na vida da gente. esta vida tão grande e tão sem regras que nós mesmos fazemos e brigamos pra que todo mundo aceite, menos nós mesmos, os que fizemos, porque nada é importante nesta vida, só nós mesmos. ah, e o umbigo.
MRLN

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