sexta-feira, junho 14, 2002


Cigarro de Paia

Eu sô um cabôco filiz. Hah! Se eu nascesse de novo eu queria ser o mesmo mané Luiz. Se eu nascesse de novo e pudesse escolher, mais do que eu sou eu não queria ser. Eu queria nascer na fazenda da caiçara lá em Exu, Pernambuco, mesmo na divisinha com o Ceará. É por isso que eu costumo dizer que uma banda minha é pernambucana a outra banda é cearense. Quando eu, hah!, não quero nem dizer, quando eu ficasse taludinho assim, eu queria logo comprar uma sanfona, pra ajudar meu pai nos toque, lá nos forró. Eu queria ser filho de Januário mesmo, e de Dona Santana. Mais do que eu sô eu não queria ser não sinhô. Se eu nascesse de novo e pudesse escolher, quando chegasse 1930 eu entrava no colégio, 18 anos de idade, colégio de pobre é o exercito brasileiro. Sentava braço. Fazia revolução como o diabo. Não dava nenhum tiro. Eita Brasil bom danado. Queria ser o rei do baião. Mais não era mole não, meu irmão. Quando eu chegasse no rio de janeiro em 39 eu ia tocar na zona violenta, da pesada, lá no mangue. Correndo o trilho dos gringo. Queria ser tudo isso. Oxente, eu queria ser o rei do baião!?!?! Até que uma certa noite chegasse lá assim um grupo de cerense. Diziam que era universitário, sei lá o que era isso!... era estudante mesmo. Depois de me agradare muito fizero uma exigência: -olha caboco. Quando a gente voltar aqui outra vez nesse lugar, nós só damo dinheiro a você se você tocá um negócio lá daqueles pé de serra. Você não é sertanejo? Ce né lá da serra do Araripe? Digo: sô. Tá feita a exigência. Daí eu fiz a recapitulação. Organizei esse numerozim que eu entrei com ele aqui agora tocando , o vira e mexe. É foi o primeiro. Quando os cearense chegaro eu disse pra eles "Olha eu tenho um negocim aqui pra empurrá em vocês!", "Então manda". Lasquei brasa. " Ë isso aí caboco!" Naquele tempo era caboco, agora é bicho. "É isso mesmo! agora você pode até visitar nossa república!", "Que diabo é isso?", "É uma república lá da lapa, da pesada, lá é que é da pesada mesmo, só de cearense. E você ta convidado pra ir lá tocar pra nóis." Eu fui, tava agradando. Hahá, fui conhecer a república dos cearense. Quando eu cheguei lá era a maior bagunça do mundo. Já viu, republica de estudante, ainda mais cearense. Aí um em tom de disse assim "Apresentar aí o Presidente da República.", sabe quem era? Armando Falcão. O homem quase que foi presidente da republica mesmo, rapaz! Bacharel, deputado, líder, ministro, foi tudo isso, faltou pouco pra ser Presidente da República. E se eu nascesse de novo e pudesse escolher, quando chegasse o dia - 24 hoje, né? - 24 de março de 1972 a essa horinha mermim, cês qure saber onde eu queria estar? Era aqui com vocês, no teatro Tereza Raquel, enrolando vocês na conversa, contando essa história, com a presença do deputado Armando falcão que tá aqui entre nós, que num me deixa mentir. Foi no governo de Juscelino que ele manobrou, manobrou na política mê irmão, né nda não, mais tamo aí sinhô na sua e eu na minha. Agora sinhô tá sentado aí, agüente meu negócio que lá vai chumbo, cabôco. Vai boiadeiro que a noite já vem, leva o teu gado e vai pra junto do teu bem.

Nenhum comentário: