quarta-feira, julho 10, 2002

Fico fazendo de conta que as coisas estão caminhando normalmente. Fico fazendo testes e falando coisinhas engraçadas. Que na realidade não são nada engraçadas. Fico fazendo de conta, sempre, que sou uma pessoa alegre, extrovertida e animada quando na verdade gostaria de ter lá meu planetinha - aquele que deveria ser só meu, que seria surgido no espaço no dia em que eu nascesse e desaparecesse no dia em que eu morresse - e não sair de lá nunca, pra nada. Porque na realidade sou uma pessoa melancólica, arredia, amarga, neurótica. Porque na realidade não há uma realidade assim, bruta, que seja só realidade, que não tenha nada de inventado. E porque na realidade - inventada ou não - eu invento mais do que vivo pareço viver esta tal invenção mais que todas as outras pessoas seriam capazes de viver as suas. Porque já - há muito - nem sei mais quando a coisa é ou se apenas estou tentando me convencer de que ela é. Porque ao ficar me justificando para mim mesma, justifico para o resto do mundo e isso parece bastar, ninguém lê mentes mesmo. Porque eu pensava que tinha controle a vida. Porque eu pensava que tinha lá uma receitinha - três colheres de chá de alegria, duas xícaras de amor, uma pitada de liberdade, unte a forma com paz e leve ao forno brando por uma vida sem esquecer de olhar quando estiver bom - e pronto estava feita a felicidade. Estava boa a vida e durante a vida inteira.

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