terça-feira, abril 15, 2003

De lá até a porta a menina foi, com o sol na cabeça, se perguntando coisas que não cabia a ela responder. Que talvez não coubesse nem a ninguém. Mas ela foi, com as minhocas da pescaria fervilhando sério. Mais ses do que por ques. Ele já não acreditava nela. Também, nem ela mesma. E se acontecia sempre. Ela achava que sim. Tentava responder o irrespondível com a maior simplicidade que conseguia que era para poder ficar com cara de respondível. E assim acabava tudo com cara de resolvido. Mas as minhocas pareciam não estar somente sob o sol. Elas entraram todas no corpo inteiro. Ela não entende por que, porque nunca entende o porquê das coisas mesmo. E porque resposta de que “é assim mesmo”, dessa ela não gosta. E não dá tempo de nada naquela sala. E ela volta com ardência e com pendência pra casa. E ela pensa se está fazendo aquele antigo caminho de novo. Se as minhocas estão indo com ela pra lá. Aquele caminho ninguém merece. E, também, ela não acredita nele. Assim vai aquela menina; que tombou do céu na primeira vez que ouviu falar que tinha que definir seus capítulos mas nao deixou transparecer, pelo menos é o que ela acha, que não transpareceu; de cabeça baixa até o carro e no carro calada com as suas minhocas até em casa. A casa que de repente não parece mais com ela. E olha aquela bonita rua em que mora como se visitasse. Pensa como seria bom se fosse apenas uma visita. E ela é tomada por taquicardia e lágrimas indesejáveis, se convencendo de que é por causa da casa que chora. Mas eu não deixo ela pensar isso. Ela chora por causa das minhocas. Ela chora de sina, do inevitável que ela não entende porque não é. É inevitável sim e parece vai ser sempre. Só isso e inevitável. E porque ela morre quando vê o Nariz Arrebitado sorrindo, olhando com olhos de quem come. Porque o nariz arrebitado é muito mais bonito que o dela. E talvez aquele nariz arrebitado não tenha minhocas nenhuma. Nem medo. E eu fico pensando o que fazer com aquela menina que quanto mais tem minhocas mais desajeitada fica e mistura logo as coisas todas. Ela está lá, daqui eu posso ver bem, com a cabeça enfiada no travesseiro cultivando as minhocas. E o pior é que ela teima em não aprender a pescar. Já insisti. Ela não quer.

Nenhum comentário: