quinta-feira, maio 08, 2003

Domingo à tarde. 15 e 21 da tarde, mais precisamente. O silencio de ressaca dos homens torna aquela cidade uma cidade deserta. Isabel, até ela dorme. E estão todos, se não dormindo, em frente à televisão com alguma comida de ontem, assistindo algum domingão de alguém ou de alguma coisa. Mas tudo muito calmo e discreto, porque domingo é o dia em que o cansaço deve reinar. E por horas naquele bairro de classe média alta daquela não tão grande cidade, não se incomodavam as pessoas. O silencio era providencial. Até o instante em que passa um homem na rua. Ele grita. Esbraveja. E de forma tão quebrada que não dá pra se acostumar com a gritaria, diferentemente do shhhhhh dos carros de classe média alta passando às vezes na avenida. Esse homem talvez não se preocupasse em incomodar, talvez mesmo, nem o quisesse. Queria só gritar o que tinha de gritar. E ninguém entenderia, como se falasse em outra língua. Devia vir de muito longe esse moço, não sabe que aqui, hoje, é dia de ressaca? Que ninguém deve incomodar? Essa foi a sorte do homem. A vaidade das pessoas, que preferiam um gringo inconveniente gritando a seus homens famintos. E nem se importaram.

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