domingo, julho 13, 2003

E se ele chegasse de repente, novamente, dissesse bai beibe e não desse nenhuma explicação? Era no que ela pensava quando virava a chave de casa. Não quis ficar refletindo ou especulando, mas se fizeram inevitáveis algumas suposições. Ela pensa basicamente três coisas. Tchau, ele sempre volta, e, por que isso agora? A chave prende na fechadura, sinal que já se foram as duas voltas, ela acorda. Olha para a formiga que passeia pelo vidro do armário da cozinha. Resolve ter sede para ter que abrir o armário e ter de lutar com a formiga para que ela não entre no armário e acabe entrando em algum copo. Abre. A formiga tenta ligeira. Ela ri, dá-lhe um peteleco e sente aquele prazer de quando se confirma a vitória sobre mais fraco. Pega o copo laranja, de plástico. Já nem tem mais sede. Mas prêmio é prêmio e ela vai buscar a água. Bebe meio sem sentido. Deixa o copo em cima da pia. Dali a alguns minutos a formiga entraria naquele copo. Se ela tivesse ficado observando, com certeza teria se perguntado se formigas bebem água e teria pregado os olhos naquela até jurar ver alguma coisa. Mas ela estava com as mãos cheias, uma calça apertada, vontade de fazer xixi e de tirar a sandália. Vai para o quarto se perguntando então o porquê das sandálias. Nem ele, nem a formiga, agora era a sandália que tinha mais presença nela.

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