terça-feira, agosto 26, 2003

mas ela ainda acha que a espera pela volta dele era melhor que a presença propriamente dita. Fazia-a mais feliz, ou pelo menos mais alegre. Enquanto esperava, muita coisa aconteceu. Quem olha de fora não pensa que não porque não há nem o que pensar. De fora, nada aconteceu. Mas enquanto ela esperava, ela resolveu deixar de esperar. Espera um pouquinho!, ela pensou, e pluft, estava plantada a sementinha, como acontece com todas as sementinhas, passa alguém e pluft. A dela não foi um passarinho verde que plantou, ela bem que tentou com ele, mas sabia que não era desse jeito que ia conseguir. Não foi uma cegonha toda "paba", que ela ouve dizer por aí e nunca entendeu realmente nem se era mesmo "paba" a palavra. Não foi uma mosquinha zunidora de ouvido. Não foi o morcego Léo comedor de goiaba, porque Léo só a ensinara a comer goiaba, nada de sementinhas. Não foi um grande passarinho de lata. Não foi a papagaia da tia. Não foi o beija-flor Marianinha. Nem passarinho foi. Talvez foi o grilo falante, mas pensando bem, eu não lembro de ter lido uma só vez o grilo falante plantar alguma coisa. Quem plantou mesmo foi o Pinóquio. Ele disse, Espere um pouquinho!, e fez, como acontece com todas as nossas sementinhas, pluft, plantou a sua. E como eu dizia, foi isso o que aconteceu com a menina que esperava. Cansou de esperar. Mas ela ainda não fez nada, porque a sementinha só foi plantada. Ela ainda vai umedecer, algo dentro dela vai forçar até romper a crosta, e vai sair devagarinho, todo torcidinho, sem cor, fraco, sem rumo. E enquanto ela espera não precisar esperar mais, ela pensa se é mesmo precipitação não esperar até lá. No fundo ela acha que não, só não vê outra saída. Ela só sabe que já não quer mais.

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