quarta-feira, janeiro 28, 2004

Les jours tristes

o papel estava no chão. Ela na cama, se retorcia, olhava e virava para o lado, como se o fato de não ver o papel tivesse o poder de, de repente, apagar da memória dela que ela deveria levantar-se para apanhá-lo. Passava o pé com carinho no lençol esticado da cama, como se o dengo do pé no lençol tivesse o poder de, de repente, alongar sua estada debaixo das cobertas. E fechava os olhos e ria. Não era só ela. O dia não deveria amanhecer assim quando se tem, por algum motivo, a obrigação de se levantar. Um dia lindo, cinzento, choroso, porque chuva e choro são mesmo a mesma coisa, dão sono, moleza e destrambelho. Ela olha o papel, fixamente, agora, como se, de repente, ele pudesse ter o poder de levantá-la da cama, sem peso, sem dor, sem volta. Se ela se levanta, eu não vou poder dizer, deixei-a olhando o papel. O que tinha no papel? Será que ele existia mesmo ou era só incômodo? Isso eu também não poderei responder. Sei que ela olhava e ria, olhava, virava e ria.

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