quarta-feira, abril 21, 2004

A morte desfaz as barreiras. Piazzolla me fez uma visita hoje. Se vivo, seria inimaginável. Não o vejo, não o toco, pois também não jamais o tocaria? jamais o viria de perto? Pois sim. O espírito não tem as conveniências do corpo. Veio, sentou na minha cama, abriu o maior sorriso. Estranho estar eu, viva ainda, confortável, limpa, ouvindo-o enquanto leio um bom texto, imaginando que existem sensações ainda melhores a não serem vividas. E enquanto tudo isso, o mundo, deveria, mas não pára. Acenderam-se quinze luzes no prédio da frente, e talvez se apagaram. O lixo não deixa de ser transportado, as crianças aindam gostam de balanços, mesmo hoje em dia, e mesmo que os dias tenham no rítmo vontade própria. O coração ainda bate ansioso à espera da próxima faixa, o meu, de música, o da moça do bonito cabelo de cachos, de pedestres. E é sempre esse movimento aparentemente vão que é o mundo, a vida, os sentimentos e as sensações.

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