quinta-feira, julho 15, 2004

ela nasceu laranja. a outra achava que ser laranja assim era bobo, feio, desonesto, hipócrita, metido e outras coisas mais. Para a outra bom mesmo era um sereno azul, de valores corretos e retos. E, quando podia, tava lá, martelando nela que dinheiro era bobagem, que ela não ficasse arranjando desculpas para a frescura toda, que deixasse de fazer de conta todas as coisas que a outra dizia ela fazer. E a outra sofria com isso, com a injustiça no mundo, e propagava o sofrimento sentido, como se o sofrimento propagado fosse a arma que ela tinha para lutar - e talvez fosse. a branca não entendia era nada. achava que a retidão não devia ser cobrada, e sim, reconhecida e valorizada, no máximo ensinada a quem se dipusesse aprender. não exigida. porque até mesmo para ser mau carater a pessoa tem que ser livre, poder escolher. achava que justiça não se metia na cabeça de ninguém. quando não já nascesse um pouco com ela a pessoa tinha que sofrer na pele. tinha que se salvar por uma justiça feita, tinha que se estrepar por uma injustiça cometida. e que por isso mesmo não tinha necessidade de catequisação - de martelamento. e achava que os outros; inveja, vingança, ignorância, maquiavelia; esses outros a gente não tinha que ir de encontro. tinha que se diluir neles, se moldar, ser elástico. passar por isso do outro e do nosso se emaranhando, conhecendo, envolvendo e acenando. quanto mais endurecido, mais fácil de rachar quando posto de encontro. o mestre dizia isso bastante. "dobrem o joelho. encaixem o quadril. quanto mais rígidos vocês se conforontarem, mais fácil de se machucarem". E ela ouvia isso, via as duas e ria.

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