sexta-feira, setembro 10, 2004

O que eu quero não está nesta cidade.
Neste país.
No além-mar.

O que eu quero não participa dos vulcões,
da fúria dos ventos,
da volúpia das marés.

Não está sob os escombros. Não está no céu.
O que é o céu? Uma parte?
Um estado?
(Nunca estaria lá
por não haver um que o seja.)

O que eu busco não está em órbita,
não se faz na presença do oxigênio,
não se dissipa.

Não salta com os cavalos,
não pende à violência do machado.

Não excrementa, não ouve,
não pulsa.

Não tilinta quando em cordas
dependurado.

Não sai - invisível - quando o arco toca a corda
e arrasta.

Não está embaixo da unha,
rôo e não está.

Não se perde no gozo,
no suor.
(Não tem nem mesmo sexo)

Não aparece na tinta azul,
na escarlate.

Não tem marca, envelope de cheque,
conta em banco.

Não se fecha com botão,
nem se abre. Em.

Não se arranca cutícula.
Não precisa de lentes.

Não diverge. Não subordina.
Não objetiva.

Não é esferográfico, dramatúrgico,
Lilás.

Não faz melodrama, não é eterno,
não apaga cigarros.

Não está embalado em furtacores,
não dança nem tango.

Não sai em revistas,
não é de vidro nem renda.

Nem é metafísico, ou retrato.

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