sábado, abril 09, 2005

ou viver ou morrer, há tanto para se fazer

Eu costumo ter pensamentos que a maioria das pessoas entendem por macabro. Ônibus são muito férteis para o pensamento. A uma hora de viagem que me leva de volta pra casa talvez seja a mais proveitosa do dia. Quinta-feira eu saía da minha primeira avaliação na faculdade de letras. Prova de Teoria da Literatura. Livro chatérrimo, por incrível que pareça, talvez até obsoleto, mas era do gosto do professor. Vamos lá ler, entender, inter-relacionar. E fui eu para a tal prova totalmente desacostumada a avaliações do tipo, pois na faculdade de comunicação os trabalhos eram bem mais usuais. O fato é que eu fui para a tão citada prova e não havia lido todos os capítulos selecionados pelo ministrante da disciplina e sem o tal do "gás" com que estranhamente saem os ex-pré-vestibulandos. Sim, sem mais delongas, estava eu a pensar no tal ônubus, depois de ter me saído bem na prova por um triz (e se é que me saí), que das duas uma: ou eu estava romantizando demais meus sonhos, e, por isso, talvez, eles sejam tão importantes e bons; ou então, eu estou romantizando demais meus sonhos e corro o risco de, lá na frente, me sentir uma tremenda duma idiota por ter saído eufórica, como se tivesse 18 anos e essa fosse a minha primeira prova em uma faculdade. O fato, e esse é mesmo, na verdade, o fato que gostaria de expor, é que eu vinha no ônibus divagando sobre a minha euforia, boba (ou não), de achar que tinha nessa prova o começo real de uma mudança do curso da vida, de aproximação dos objetivos, de uma segunda chance de darem certo as coisas.

E você pode, se estiver lembrando ainda, pensar "onde estará o tal do pensamento macabro desta louca?". Sei que eu ria olhando o mundo pela janela sempre semi-aberta, meio fechada, do ônibus, pensando que a vida é mesmo é essa doidice, de estar feliz agora, na hora, hoje, nesse instante, que no outro dia pode ser que tenha mudado tudo, nem para melhor nem para pior, para diferente, que no outro dia a gente pode muito bem sair sem prestar bem atenção na rua e não ter mais o que fazer no mundo e os passinhos pacientes, dados pensando em uma felicidade num futuro, tornarem-se aparentemente vãos, e que objetivos a longo prazo são como longas viagens: o caminho tem que valer a pena, tem que ser bom em si mesmo, ou, como diz aquela música; o viajar tem que ser mais que a viagem. Ou algo que o valha.

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