sexta-feira, agosto 05, 2005

Gostaria de poder o que não soubesse fazer desmanchar
em palavras. Mas elas se protegem demais. Têm medo
de luz. De ruído. De qualquer indago. Preferem a
coxia do teatro. Se a costumaram com a bruma. São
bicho arredio, do mato. Gatunas. São ladras, elas. De
fôlego que já falta, do chão que já não se tem, da
razão de quem a agarra com unhas e dentes ou a guarda
sob sete chaves. Porque palavra é chave que abre e fecha.
(E a minha narrativa é toda -articulada- acostumada).
Sinto falta do vermelho. Da palavra rota, do español
ou do Drummond, porque ser roto é diferente de rompido,
rachado, é roto, tem um desconjuntamento embutido no que
é roto, tem uma ausência, uma falta que acontece. Um
descompletamento definitivo. O que é roto não se cola,
não adianta. Da que dança descalça numa pele fina feito
tensão superficial da água, em cima de uma mesa de cristal.
Da palavra frágil. De tentar - porque é sempre apenas uma
tentativa a brincadeira - brincar de esconde-esconde com as
imagens absurdas que tento criar. De desproporção.
Desproporção é quando se tenta fazer ver tamanho na
desimportância e, ao mesmo tempo, deixar do tamanho do
cocô de uma pulga os temas graves que assolam a humanidade.
Eu também quis inventar um jogo com palavras.

Um comentário:

Anônimo disse...

quetextinhomaislindominina.
eu tenho um caça-palavras, na minha cabeça, que não sai, não sai, não sai...