quinta-feira, junho 14, 2007

eu só espero que quem tem dó prepotente de quem sofre, nunca sofra, e continue leviano, solto, tolo e superficial no mundo. espero que quem sobe degrau na escada só pra olhar o outro por cima, fique lá, ou suba sempre mais degraus, e fique bem longe da terra, do dentro de si, da condição humana. as pessoas andam muito cheias, de si, de lemas, de bandeirolas - porque faz décadas que não se prendem por bandeiras verdadeiras -, manias de excesso, status, conceitos e valores agregados. as pessoas andam tão cheias de si, de saco tão estuporado de suas próprias caveiras embelezadas, que não cabe mais ninguém de forma terna, segura, comovida. e acho que elas, essas pessoas, devem viver é isso mesmo, essa vida meio falsificada, esse discurso bambo, de corda bamba erguida lá no alto - das que não pode cair, nêga, se balance toda mas não caia, que queda dessa ninguém aguenta -, de porta afora. de soberba e despeito.

essa é a peneira natural das pessoas.

enquanto isso, em algum lugar dessa cidade, tem gente juntando os cacos de seu eu, que nem tão difuso assim era, mas essa pessoa ainda luta pra ser algo um tanto pouco melhor do que foi no dia anterior. nesse momento, há gente pensando que não deve alfinetar uma outra pessoa que se ama - ou que já se amou -, ou que nem ame, porque as pessoas que não amamos também merecem nosso respeito e consideração. elas não têm culpa de que não as amemos da mesma forma que as que não nos amam não têm porque ser condenadas por isso. o que eu vejo nessas que juntam seus cacos é que a vida delas dói um pouco mais, porque é injustificável. se levou um pé na bunda, por exemplo, não foi porque a pessoa em questão não teve o poder de perceber o quão maravilhosa ela era, mas sim, porque a vida corre em ciclos, e esse fechou. por maior que fosse a dedicação prestada, o amor despendido, a vontade de que desse certo. fechou, juntou as pontas, 360º e acabou. a mesma coisa quando se comete um erro com outro - falo sempre em relação a uma outra pessoa, porque a relação com as coisas pode sim, às vezes, ser superficial - não há o que esse outro tenha feito que sirva de motivo para ter-se errado contra. erro é mea culpa, cada um assume o seu. essas pessoas de que falo não se vingam, porque diferentemente das superficiais, não acham que a vingança é um prato que se come frio, mas sim, que é um prato facinho de fazer, tipo macarrão instantâneo, 3 minutos e tá pronto pra comer.

é mais ou menos essa a diferença entre os dois tipos: a escolha pelo caminho da facilidade. da rabissaca, do atropelo dos sentimentos alheios e de seu próprio, carregando a vã esperança de alguma superioridade em agir assim.

me sinto melhor em companhia dessas segundas pessoas, por questão puramente ideológica. delas que eu cuido, acarinho, eu apaziguo, mimo, zelo, enobreço, elevo, elogio. e me compadeço de suas causas, da opção da vida mais difícil levando como vantagem apenas relações mais verdadeiras, dores mais verdadeiras, alegrias mais verdadeiras e o entendimento desmascarado de si mesmas, carregando a rara sabedoria de que a vida não é feita de custo-benefício.

as outras pessoas, eu torço muito para que seus palácios de cristal nunca se quebrem, que seu espetáculo nunca se torne obsoleto e que permaneçam eternamente felizes.

6 comentários:

Anônimo disse...

:~


bora furar o dedo?
fazer um pacto, bora?


quero tu na minha vida sempre.

bonito o texto, muito bonito.

amo!

Unknown disse...

Faz tempo que eu não vejo uma crônica tão bonita quanto essa.

Amo

barbra brusk disse...

que lindo. que lindo. texto com biceps. foshte.

te amo, afilhadinha ao par.

Iaiá disse...

que talentosa você. linda de verdade, e tão jovem ainda. muitos parabéns.

Mirella Adriano disse...

Lua: a gente já furou esse dedo faz é tempo. amo.

Zé: quem é Sellaro? amo mais.

Mari: Madrinha, é que eu sou foste. Pergunta a luana. amo e amo.

Iaiá: prima dançarina, linda é tu.

Caio M. Ribeiro disse...

e nem precisou ir pra prisão.

vide "de profundis."