domingo, março 02, 2008

quinto dia:

a simplicidade deixa a gente mais humilde, mais humano, mais maduro.




é preciso aprender a continuar sonhando mesmo sem dinheiro. e não achar que há algo errado em quem o tem. é preciso aprender a lidar com o papel, como é preciso aprender a lidar com credo raça idéia partido cozinha
burocracias perdas ganhos danos poesia lucidez metafísica ludiceza e fantasia. é preciso ter a manha da tal vida esférica, da realeza, do pé fincado no chão, quase cabeça de avestruz, da vida sem prêmio de loteria, sem herança de tio-avô, sem maleta recheada encontrada no aeroporto, sem caça-talentos que observe seu belo tra... sorriso na praia e te faça a mais nova estrela do momento. a manha da vida sem deslumbre, mas cheia de celebrações. é preciso celebrar com quase a mesma força de sonhar. é preciso estar atento também. e desconfiar das facilidades - aliás, desconfiar das facilidades é quase tão útil e importante quanto sonhar e celebrar. saber da fronteira, não perder de vista a linha, ter a manha dos limites imaginários entre as regiões. porque quando a vida chamar não vai ter a risca no chão avisando que ainda está dentro ou se já está fora nem legenda avisando que a cidade é outra, o bairro é ao lado, ou país é aquele. é preciso sonhar com 10,00 contados para ir ao teatro ver "por esta porta estar fechada as outras tiveram que se abrir" e lembrar com orgulho e ternura - porque o moço lindo disse bem, dessa a gente não pode se despedir jamais - que já se vendeu livro em sebo para ir ao cinema. mas isso tudo é um tanto fácil, porque aqui quando se pega o ônibus pro lado errado se ganha uma paisagem que chega a doer o coração, uma giganteza de verde montanhoso, uma estrada decidida como um bisturi sob imensas pilastras que esperam uma outra estrada, suspensa. erguida, ao alto, como parece ser tudo aqui. gente morna aconchegante e acolhedora que não desaprendeu a conversar mesmo depois daquele século vinte maluco e deste vinte e um estranho e gris. uma gente que vive de queijo leite café doce mel álcool e palavra, e palavra derramada, solta, levinhas levinhas, montes delas, que se não cuidar se perde uma tarde, apesar de não parecer essa a idéia aqui. conversar uma tarde inteira é tão - ou mais - normal que trabalhar pesado uma tarde inteira. minha garganta não agradece muito este costume, mas o resto do meu corpo vibra enlouquecido feito vespa em luz amarela e me faz pensar que só isso já me põe no paraíso. e completa hoje um mês que pus a cabeça para fora da janela do ônibus que percorre o caminho Rio de Janeiro-Belo Horizonte e meu coração só pensa que não podia ter tomado decisão mais acertada para a vida. que o cheiro daqui já parece velho conhecido, de mato de serra de Horizonte, parece mesmo o de lá, da minha casa do sítio, e o povo devagar - que felizmente não é só em Itabira -, a tarde devagar, a vida devagar, e benzadeus que é besta.

Um comentário:

Luana Cavalcanti disse...

bom acordar do teu lado.
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amo!