sábado, maio 03, 2008

e o que fazer quando as mãos ficam mudas? não sei, tem alguma idéia? não. na verdade, sim, mas as mãos estão mudas. escuta, você deveria se acalmar. descansa as mãos aqui no meu colo, sente meu pulso, ele vibra. e quando ela pousa a mão, ele sente a aspereza e o frio que ela tentava definir como mudez, surdez, paralisia. o que houve com você? não sei, eu tentava diálogos imaginários onde ninguém falasse, eu tentava falas sem que houvesse ninguém para dizê-las, eu pensava nas palavras por si mesmas, soltas no mundo, proferidas, e pessoas que existiam demais para dizer, que fossem sempre palavras de menos. eu tentava uma luva branca e fina, uma película sobre as mãos, de um perfume licoroso e às vezes exalava algo de amêndoas. eu passava as mãos nos cabelos lisos dela e podia sentir os olhos grandes amarelados pelo macio do cabelo, pelo fluxo contínuo de meus dedos em cera quentes, grudados nas gostas fartas; mas hoje é como se as palmas avistassem asas de concreto, bronze, metal denso e vazio, mas tão bonito quanto ela, mesmo sem o movimento dos olhos em mim quando me sentia em seus cabelos. e ele não gostava quando ela falava em tons de mel, porque era feito agulhas vazando gota a gota seu pulso firme, e forte. pulso de atleta, você tem, de remador, com todo esse azul fazendo rios, mapas de rios, gostaria de navegar por eles. então venha. e não precisa dizer mais nada.

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