sábado, junho 07, 2008

pés no chão

podem ser um recado, um bilhete, uma declaração, um aviso, uma lembrança.
pode ser aquela voz que dobra a esquina, pousa na janela, trai um aceno. ou a tua mão, num revés fantasma, aquela carta que chega fazendo algazarra e esconderijo, que diz mais que o que eu poderia saber, e que sei sem lê-la, a sei prévio, suspeição.

há tempos que intuo, torres de igreja, bolhas de sabão, aquela mesma em uma outra situação. e não me venha dizer qualquer outra coisa, sei das cartas sem ler, sei das curvas sem seguir, sei do vento de onde vem, tenho olho comprido, só você não vê, que para cada raio amarelo uma montanha verde corresponde em vários tons, uma saia molhada cola o corpo de quem apenas espera e assiste movimentos em torno de si, sei meus joelhos tão livres, róseos, duros, e eles não precisam de tremor, estão de novo jovens, e meu ventre, que já foi seco, teso, chuvoso, dança desritimias e compassos, euforia de paz, de tão a si encontrado, que não lhe cabe disputa
por mais nenhuma luz na manhã.

observe minhas mãos, elas sabem, elas sonham, sonham mais do que seus próprios olhos seriam capazes, e furtam vazios, hesitações, regimes, transformam matéria em energia, condensam ar, desentopem caminhos com novas linhas, socam, evitam, fazem arcos e não esperam.

mãos são como olhos. silêncio abre portas. teimosia é diferente de certeza.
algumas coisas nos voltam. o espaço em branco pode ser uma boa medida.
sou feliz por fazer contas muito bem.