segunda-feira, agosto 25, 2008

Mais tarde, quando acordar, vou encontrar um passarinho cantando baixo em minha janela e será dia vinte e três de dezembro. Terei acabado de sentir o pulmão abrir e o ar tomar conta do corpo pela primeira vez. Estarei inundada de luzes de todas as cores, mas abrirei pelo menos um dos olhos, para observá-las atentamente. Será exatamente oito horas e quarenta minutos e será um bem-te-vi. Ele terá acabado de vir de um ninho com três ovos que fica em cima de um pé de tamarindo. Depois que ele cantar na minha janela, vai ouvir um choro meu, dizendo que acabei de chegar, que sou mulher e farei um dia vinte e sete anos. Então vai voltar e bicar um a um de seus ovos, com ternura e cautela, é assim que fazem os pássaros. Mas eles ainda não estarão prontos. Ela, vai sentar sobre eles e esperar dar quatro horas da tarde. Quando os outros já estiverem chegando para dormir, ela vai sair e procurar pequenos insetos e alguns galhos secos. Porque seus pequenos sairão no outro dia logo cedo. Às dezenove horas ela retornará, ampliará sua casa e armazenará algum alimento. Dormirá levemente com os anjos. No outro dia, às oito e trinta da manhã ela torna a bicar seus ovos. Em dez minutos ouvirá três piados. Depois mais três. Depois vários. Há pelo menos três horas todas as outras aves já estavam nas ruas. Uma janela se abre em frente àquela árvore e uma mulher aparece a procura de um pouco de luz do sol. Tem o rosto abatido e feliz, como o de Maria. Elas se olham e imediatamente uma oferece um peito e a outra, o bico cheio.

Quando eu tinha dez anos adorava subir num pé de tamarindo que tinha em frente a minha casa.

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