sábado, abril 11, 2009

Sim, levei o xeque-mate. Estava sentada na mesinha da praça e eles eram muito melhores que eu. Consegui algumas vitórias, às vezes até voava no tabuleiro, parecia que era tudo meu. Mas deveria ter parado partidas antes. Alguém me disse uma vez, "xadrez não é jogo para mulheres. Não tente o mundo dos homens, eles te puxarão o tapete quando mais distraída estiver. Não por mal, nem estarão errados, nada disso, é que, apenas, têm melhor consciência que as mulheres daquilo que é deles. E têm, geralmente, muito. Não jogue com os homens, eles sempre ganham". Estava olhando as montanhas naquele absurdo de verde, pensando que deveriam ser macias e doces, quando ouvi o estalido, ele batia freneticamente no sino do relógio, era a minha vez e eu deveria ver de imediato sua cilada. Seus amigos me olhavam, uns orgulhosos, outros se sentindo muito bem representados, outros com aquela cara de "eu já sabia", "lugar de mulher é no fogão"ou "bem que nós tentamos avisar" e eu olhava suplicante para a minha rainha, pedia ajuda, meu rei estava enrascado. Como não havia o que fazer levantei rapidamente, baixei a cabeça acenando agradecida aos senhores pelo privilégio da partida, como fariam os cavalheiros que eles não puderam ser. Meu rei não pôde fugir e eu não pude salvá-lo, e às minhas costas, os homens confrades comentavam que meu bando havia sido derrotado e já se retirava. Segui por uma estrada empoeirada amargando o gosto da derrota, e sabia que eles, ao anoitecer, ergueriam bandeiras e chamariam as moças. Brindariam até a madrugada o alívio e a amizade, o chão borrado pelos passos sobre a cerveja derramada de tanto baterem as canecas tão forte umas nas outras; o chão borrado pelos passos que pude dar mas marcado ainda mais forte pelo que apenas avisto, a festa, a companhia, a música leve, a amizade dos iguais.

Um comentário:

Luana Cavalcanti disse...

bonito texto.
quando mesmo ao chão molhado de cerveja resta a amizade, quando resta.

muito bonito!