terça-feira, setembro 06, 2016

Seasons came and changed the time
When I grew up I called him mine
He would always laugh and say
"Remember when we used to play"


Saudades de quando eu ainda tinha você e quando meu mundo carecia, faltava e não convinha, você era a minha utopia

Só isso, minha transcendência do marasmo, minha impossibilidade ressignificada, meu campo do possível

Saudades de quando eu tinha você, meu fade out, minha fortaleza desgovernada, uma pequena varanda nos dias quentes de tanto sol. E era um ar puro como o ar das trevas, e eu já sabia, um vento sibiloso no carretel das noites

Aquele portal. Era isso. Um portal

Era você de quem eu me desterrava, de quem eu não suportava minha agonia. Meu vento do leste no pôr do sol vermelho da rude cidade que se abre em leque para o nada

Me perguntava - tu é de prosa

Eu era longa, macilenta, movediça. E tinha medo. Porque você tinha aqueles olhos de cobra, despertava umbigo, desfazia serração no meu ventre

E ia embora na caatinga, na mata atlântica, na amazônia, no cerrado, haste em punho cenho franzido - era ibérico? - nunca soube

Provável que não, era carvalho, era doce como o céu lilás das dezoito horas daquela cidade que perdia nossos passos em dois mil e cinco e eu nada podia fazer - eram os aviões

O destino verborrágico e eu assistia. Dentro. Antes. Eu sabia, todas as noites em que eu não podia, sem forças, sem ganas, sem brios, eu era ali em umas mandingas e eu já sabia, do verde daquela lagoa, do cabelo curto dela, daquele monte de letra gasta naquela tela numa tinta japonesa no hall do apartamento velho do centro no dia de sol em copacabana, eu sabia do tamanho que me sobrava, do tamanho que eu não fazia

E você? Umas tardes úmidas te bastam. Um pé novo, um cheiro de talco - minha letra desgastada umas duas horas de dezenove anos que eu te via vindo pela escada com uma pasta aprendendo a ser, eu ainda nem era

Aquele corredor - um no ar patético piscava - um brasil acontecendo distante em umas frequencias apagadas - um registro e um luto - tensão fina e muda - minha espinha na parede - volte - são apenas tópicos - nunca foi ciência

E o que foi do tempo, do lodo das atitudes, do breu dos passos dados, das heras no alto muro da memória? uma hipótese: eram o futuro. Um sino rouco que toca ao longe, a sina da vida que podia ter sido e que não foi.

Mas já amanhã esqueço. É que hoje - hoje - são duas horas da manhã e o que eu tenho já não me basta.


06/03/14 Dom. 01:53

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