segunda-feira, maio 29, 2017


Sobre algumas coisas que aprendi das plantas:

Existem ciclos. Ainda que não se sinta, não se saiba, não se perceba nem se queira. Existem ciclos.

Não há diferença entre as existências, tudo existe e é interdependente: o vaso, a terra, a formiga, o ar, a água, a outra planta, o humano, a lata de tinta, o pássaro, o nada, a noite, o dia, a fumaça, o barulho, a visita, o excremento, o amor, a semente, o fungo, a alegria, o sulfato de cobre, o intruso, a bacia, a garrafa pet, a dúvida, o pote de azeitona, a memória, o medo, o buraco na parede que espera pacientemente a instalação de uma lâmpada, a energia. Tudo existe porque tudo existe.

É possível viver separado. É possível viver cada qual no seu próprio vaso. Quanto mais distantes os vasos, mais possível ser separado. Qualquer proximidade entre os vasos ameaça essa separação. A aproximação dos vasos fortalece a passagem do ser pelos diferentes ciclos.

Ainda que seja capaz de florir apenas uma única vez, nunca deixará de ser florífera. Se é o que se é, antes, muito antes do que se parece ou do que se mostra ser.

Tudo muda e não é demagogia. A flor seca, o fruto nasce, o fruto apodrece, a semente do fruto seca, um novo ramo pode irrompê-la, uma nova planta nasce. A isso se chama fluxo. Transformação, mutação, renovação, ciclo, são apenas partes do fluxo. O que move é o fluxo. O irrefreável fluxo.

A vida é sempre abundante. Mas se quisermos perceber isso, temos que acolher os ciclos. Somos frequentemente iludidos pelas flores e pelos frutos, como se só ali houvesse vida e abundância. A própria vida que uma planta mantém no inverno rigoroso ou na seca agreste já é abundância.

Tudo bem morrer.

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