sexta-feira, fevereiro 10, 2006

e como era ver o fim da história, eu, que no começo, tinha sido projeto, aspiração, espera? Eu, que fui parte dos planos, dos desejos, da equipe, de como foi quando o outro precisava se curar, em que não se fazia o que queria, mas o que precisava ser feito. Do colchão no chão antes de vir a cama, da mesa da cozinha que guardava os pratos, da porta de alumínio que ainda divisava a varanda, dos oito anos e dos cabelos grandes dela. E dele, no chão arrodeado por vinis, sempre bons os daquela época, ele ainda nem usava óculos. Eu era para ele sempre a primeira sílaba de meu nome, eu que tinha sido muito esperada, e que sei as inúmeras histórias que ela, ainda recorda e conta. O convite da formatura ainda estava em branco, porque eu pensava que seria apenas um para os dois, e que só precisaria entregar no dia que fosse embora. Deixava de ser surpresa para se tornar pendência, aquele pedaço de papel fotografado e caro, cheio de custo e de ranso. Penso tudo isso, agora.

e como era isso, do fim das coisas? Vai desapartar para ver como é que fica, foi o que ele disse. E como é que fica? As coisas não andam ficando assim sem rumo, não andam se fazendo sem querência nenhuma. As coisas são feitas. Eu teria lhe dito se tivesse conseguido algum pensamento na hora do comunicado. Eu teria lhe dito que ele tem que saber. que lhe é um dever, saber. Eu teria dito muitas coisas.

e como fica a espera? Eu deveria ter lhes dito muito antes que não há necessidade de razão confirmada, de competição acirrada, de trejeito, de novela. Mas que havia de muito mais sossego, dança, piada, tearo, relevo, flor. Dizer-lhes que eu nem sei se deveria, mas que sei o meu lugar na história, e não é o de determinar, e sim o de acolher indistintamente. E dizer que flor não é a planta - mas acho que aí já é bem mais difícil - que flor é uma coisa que cresce no meio do asfalto, torta e feia, mas que ainda assim é uma flor. É que esse negócio de dizer é mesmo difícil demais.

e para onde vai o amor quando o amor acaba? Isso serve muito para a filosofia. Para onde? Que nem o passo que acabou de ser dado, onde se esconde? E lembro que às vezes consigo prever muitas das coisas, e que isso é prazer e inferno, isso de prever coisas. Nos tornamos subordinados a nós mesmos, sujeitos a uma coisa que é descontrole em nós. E hoje tenho janelas e pontes, arcos e nuvens, água, céu e velocidade, e hoje, é isso tudo mas muito dentro e quieto. O amor não vai para lugar nenhum.

3 comentários:

Anônimo disse...

e que tem lua também.

psssssssssssss... fica aqui, quietinha no meu colo.

Caio M. Ribeiro disse...

O amor vira purpurina pra se esconder nas veredas das entrecalçadas.

Lembra da saudade? Pois é. :*

natércia pontes disse...

cara miloca da graça,
também gostaria de saber de onde ele vem. um beijo apagando o cigarro no rejunte da janela