quinta-feira, abril 20, 2006

Autre fois.

Quando eu era criança não sabia que as pessoas podiam se comparar com frutas. Quando fiquei um tantinho mais grandinha assim, eu descobri.

Aí fiquei achando que era uma melancia. Porque eu era toda com jeito de durona, mas a menor violência no manejo me desmanchava toda. No fundo, no fundo, eu era mesmo feita de água. Por muito tempo fui melancia. E achava muito bom. Bonito, até.

Hoje não sei mais que fruta seria. Não posso dizer que ainda seja de água. Não sou nem mole nem dura, muito menos tenho casca. Às vezes o revestimento é mais tênue que o miolo. É sim. Como as castanholas. Outras é lleno de espinhos, mas dentro é doce, o que não nega ainda um tantinho assim de acidez, perspicácia e sarcasmo. Há quem me descasque, fácil, e encontre desde o início uma mesma coisa, amarela e sem graça. Posso parecer feia, mas boa de pegar, sendo a beleza mesmo está dentro de um verde anil sereno e paz, doce, desenhando, e quase ninguém descobre. estouro na boca e ainda faço engulir caroços. Lambuzo, solto fiapos e seiva de casca de árvore. Qual seria a fruta de Jorge?

Acho que hoje não sou nada. É sempre assim quando se é muita coisa ao mesmo tempo. Hoje não sou efetivamente nenhuma delas. Apenas olho ferozmente o mundo de dentro da fruteira.


E como vejo.


Quando eu era criança eu conseguia só perambular, menina maluquinha, pelo mundo feito doida, correndo e assobiando. Hoje, eu tento resgatar, porque ainda sou uma resistente, mas cada dia mais difícil. Falta azul no meu céu e um pedaço de mar, falta o doce do mel, sofro uma falta de ar, falta o agito do dia, falta uma noite de paz.


Mas eu sempre consigo.

2 comentários:

Anônimo disse...

eu te dou um pedaço de mar, onde tu pode ver da janela da minha cozinha, do lado esquerdo da varanda.

tu é a minha fruta preferida. ;]

Suyá Lóssio disse...

e vai conseguir sempre que quiser. =]
que texto lindo.
é mais que verdade, conseguiu expressar uma coisa que muita gente sente, tu.

=***